Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sexta-feira, 31 de março de 2017

a grande, a eterna crise que vivemos é uma crise de representatividade.

Representação 

Luis Fernando Verissimo


Não há muita diferença entre o que acontece hoje e como era na Velha República.






Há muito mais operários, trabalhadores no campo e empregados em geral - enfim, povão - do que a soma de todos os empresários, evangélicos, rentistas, latifundiários e etc. do nosso Brasil. O que quer dizer que a grande, a eterna crise que vivemos é uma crise de representatividade. Minorias com interesses restritos têm suas bancadas amestradas no Congresso. A imensa maioria do País tem representação escassa, em relação ao seu tamanho, e o que passa por “esquerda” na oposição mal pode chamar-se de bancada, muito menos de coesa. Só a ausência de uma forte representação do povo explica que coisas como a terceirização e a futura reforma da previdência passem no Congresso como estão passando, assoviando. Os projetos de terceirização e reforma da previdência afetam justamente a maioria da população, a maioria que não está lá para se defender. Li que a lei das privatizações vai ser mais “dura” do que sua versão original, que não agradou aos empresários. Os empresários pediram para o Temer endurecer. Os empresários têm o ouvido do Temer. O povo era um vago murmúrio, longe das conversas no Planalto.

Não há muita diferença entre o que acontece hoje e como era na Velha República, em que o país era governado por uma casta autoungida, que só representava a si mesma. Agora, é até pior, pois a aristocracia de então não se disfarçava. Hoje, temos uma democracia formal, mas que também representa poucos, e se faz passar pelo que não é.
Claro, sempre é bom, quando se critica o Congresso, destacar as exceções, gente que na sua briga para torná-lo mais representativo quase redime o resto. Que se multipliquem.

Rotação. Da série “quem diria...” Uma das razões para impedir que um comunista chegasse um dia à presidência dos Estados Unidos era o temor que o país passasse a ser governado pelo Kremlin. A possibilidade de um comunista ser eleito era remota, mas o medo era real, e alimentou o macarthismo e as atividades do FBI durante anos. Corta para hoje, e a revelação de que o FBI está investigando a possibilidade de o Kremlin ter ajudado na eleição do... Trump! Um espécime acabado de reacionarismo americano. Outra prova da rotação da Terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário