Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Orou pela conversão dos pecadores que coloriam os anjos e pelo perdão dos ímpios que aviltavam os ensinamentos de Cristo.

ANJO NÃO TEM COR!

Quando a Segunda Guerra acabou, as cidades da Europa estavam destruídas e as pessoas ansiavam por um tempo de paz, pela reconstrução de suas vidas e por esperança no futuro. Então, um padre, da cidade de Berlim, Alemanha, no ano de 1945, propôs a visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima às capitais e às cidades episcopais da Europa, até a fronteira da Rússia.



A história de aparição de Fátima, em 1917, a três pequenos pastores em Portugal é bastante conhecida, mas o fundamental é que Ela se anunciou às crianças como um anjo que trazia os desígnios de misericórdia e paz, exatamente os propósitos mais necessários entre vencedores e vencidos da grande guerra.

A ideia de passar por todos os continentes (houve ao longo de meio século visita a 64 países e centenas de cidades) levando a mensagem mariana ganhou força na cúpula da Igreja Católica, ampliando-se para todos os países envolvidos na conflagração. Em 1953 a imagem peregrinou por inúmeras cidades brasileiras, entre as quais Cajazeiras, na Paraíba.

Um evento único, grandioso para a terra de Padre Rolim. Foi inesquecível para todos que dele participaram. 

Maria Auxiliadora é uma das pessoas que vivenciou aquele acontecimento e nunca, nunca mais se esqueceu. Estava com onze anos de idade (agora possui 74), criança espremida na multidão que se formou na entrada da cidade, a receber a imagem de Fátima, no bairro dos Remédios.

Dos dias especiais lembra-se de tudo: o almoço foi cedo, por volta das 10 horas, na casa de Dona Anorina, mãe de Neuma, ex-companheira do Dr. Júlio Bandeira. O cardápio festivo: comeu saboroso fígado de porco torrado, cuscuz e feijão. As roupas apropriadas à cerimônia, com trajes a rigor: vestida de anjo, como cabia às crianças. Na sequência, à semelhança de quase toda a população, dirigiu-se à saída da cidade.

As muitas meninas, na mesma faixa etária dela, estavam de branco e no meio da barafunda surgiu uma conversa para que as pretendentes a anjo ficassem postadas próximo ao carro que conduziria a imagem. Maria Auxiliadora correu para o local destinado e, ofegante, apresentou-se ao coordenador, porém foi inexoravelmente recusada. Alguém gritou: “anjo não pode ser preto”.

De longe, afastada pelo preconceito que conhecia pela primeira vez, viu a imagem da Senhora de Fátima adentrar Cajazeiras. Orou pela conversão dos pecadores que coloriam os anjos e pelo perdão dos ímpios que aviltavam os ensinamentos de Cristo.

Maria Auxiliadora é conhecida por nós, pelos vizinhos e pelos amigos como Maria Preta. Sempre sorrindo, cumprimenta o interlocutor chamando-o de meu amor! Na casa de meus pais trabalhou como empregada. Hoje faz companhia à minha mãe, todas as noites. É um Anjo sem cor guardando o sono e os suspiros de Joana.

Lembra sem mágoas da ofensa e sonha, às vezes, com a Senhora de Fátima, não com a imagem que chegou a Cajazeiras naquela tarde tão distante no tempo, mas com o ser de luz que conforta e acalanta as almas.

        
José Alves Pereira Filho

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