Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Não problematizar as expressões de racismo, sexismo e antissemitismo é fechar os olhos para os problemas mais profundos de nossa sociedade.

  Pedro Abramovay


Eu morava na França em 1994. Tinha 14 anos. Eu tava no treino de futebol brincando com a bola e um menino do meu time falou: "Vai ficar com a bola pra sempre, seu judeu?!" Eu demorei um pouco pra entender. Ele não tava se referindo ao fato de eu ser judeu (aliás, quando eu disse que era judeu ele ficou duvidando: "não existe brasileiro judeu!"). Judeu ali era um xingamento. Avarento. Eu nunca tinha sido "xingado" de judeu. Foi bem estranho. Fui conversar com meu pai e ele me contou que na infância dele isso era mais comum. 


Mas que na infância dos meus avós isso era muito pesado. E me falou dasmúsicas do Noel. Ele me ensinou a gostar de Noel. Eu sou muito fã. Meu filho de cinco anos já é fã de Noel. 

Mas ouvindo aquelas musicas, com 14 anos, eu entendi que Noel cantava imbuído do antissemitismo tão forte no Brasil dos anos 1930.

O artigo da Folha do Alvaro Costa e Silva critica quem ousar problematizar Noel. Não problematizar as expressões de racismo, sexismo e antissemitismo é fechar os olhos para os problemas mais profundos de nossa sociedade. 

Não tem nada a ver com censura. Com chatice. As musicas nos ajudam a entender nossa história, nossa cultura. São espelhos. E Narciso finge que não é espelho aquilo que acha feio.

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