Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

sobre o agro: o negócio.

   
Luiz Antonio Simas

Acabei de ver o vídeo grosseiro da apresentadora que detona o enredo da Imperatriz e os índios do Xingu, em defesa dos que ela julga como os verdadeiros heróis brasileiros: os homens do agronegócio. A grosseria, a falta de gentileza, a fala cuidadosamente articulada entre o desafio, a ironia de terceira categoria, o preconceito e a boçalidade, dizem tudo.
Eu acho que nós temos que encarar esse ataque do agro ao enredo da Imperatriz Leopoldinense - sobre o Xingu e os irmãos Villas-Boas - como sintoma de algo que é bem maior. 

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O mesmo agronegócio, como sabemos, já botou grana em ao menos duas escolas de samba: Vila Isabel e Unidos da Tijuca. Os desfiles e os sambas, aliás, foram elogiados com boa dose de razão. Agora, contrariado, parte para a ofensiva contra as escolas de samba. Me parece, e não há novidade nisso, que o agronegócio ultrapassou as barreiras de sua atividade primordial e se transformou em um fenômeno estético modelador de certos modos de ser dos brasileiros. Ele é indissociável, por exemplo, da explosão do sertanejo universitário como o gênero musical mais tocado no Brasil contemporâneo, conforme muita gente já constatou. A grana está ali, o jabá está ali, o retrato do país bem sucedido, midiaticamente difundido como um oásis próspero em meio a um país que aparentemente fracassou, está ali. 

O agronegócio hoje é uma questão de estética, ética e ótica. Ele é pop. Já conquistou corações e mentes e não há quem esteja imune ao seu raio de atuação. É tema de novela, é tema de seriado, causa furor em todas as faixas etárias. Molda a moda. É o dileto companheiro da teologia da prosperidade dos pastores eletrônicos. Futuramente, quem sabe, a bandeira do Brasil terá, como na época dos ramos de café e tabaco, dois símbolos que representarão o que nos caracteriza como projeto de nação: um chapéu de texano e uma bíblia de bolso. Uma arma de fogo, dessas bem transadas, é candidata a entrar neste time.

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