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domingo, 22 de janeiro de 2017

Entramos na era da pós-verdade

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Pós-verdade

Regina Teixeira da Costa



Como afirmou em artigo recente Rosana Pinheiro Machado, cientista social e antropóloga, professora do Departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford e articulista da revista Carta Capital, vivemos tempos sombrios e sem parâmetros. Nada mais perturbador do que a perda dos parâmetros de verdade, justiça, autoridade, bom senso, tempo e direção. Sem regras ou segurança de que os direitos democráticos sejam garantidos. Uma lacuna desconcertante entre passado e futuro, segundo Hannah Arendt.

Entramos na era da pós-verdade, nova palavra assumida pelo Dicionário Oxford britânico, que quer dizer que a sociedade preferiu boatos aos fatos. O jornalista Gabriel Priolli aponta que o termo cresceu nas redes sociais sendo cada vez mais adotado, palavra destaque na língua inglesa pela mídia em que foi empregada. Um adjetivo que “denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais.”

Outro dia mesmo recebi de uma amiga uma mensagem que continha uma resposta – atribuída a Cristovam Buarque – a uma pergunta de um jovem americano sobre a internacionalização da Amazônia. Ele responde propondo a internacionalização do petróleo, das crianças e de várias outras riquezas e problemas do mundo.

Esta notícia não teve destaque nem apareceu na mídia. Embora excelente argumento, acredito que resposta tão inteligente não passaria despercebida e julguei tratar-se destas muitas mensagens falsas e viróticas que nos mandam com propósitos escusos de desestabilização ou qualquer intenção suspeita. Só depois, pesquisando na internet, encontrei a confirmação no YouTube. Ela ocorre em 2011 e vale a pena assistir.

Assim, nunca sabemos se o que circula nas redes sociais é verdade ou apenas uma onda de comentários que assume o lugar da verdade. E se é atual ou antiga. As fontes devem ser procuradas antes de reproduzidas. Muitos países que possuíam uma agenda mais consolidada de direitos humanos deram um passo atrás. Tudo que julgávamos conquistado parece tremer sob nossos pés.

O Brexit na Inglaterra (abreviação de Britain [Grã-Bretanha]e exit [saída]), saída do Reino Unido da União Europeia (UE), fecha suas portas para toda uma raça (sírios refugiados) tratada como inferior e indesejável, embora sejam, como todos nós, seres humanos. Segregação que lamentavelmente nos relembra e ameaça o retorno dos tempos nazistas.

Atualmente, outros fatos, como a eleição de Donald Trump nos EUA, trazem grande ameaça de retrocesso dos direitos humanos e segregação. No Brasil, Bolsonaro, que fez apologia do estupro e da tortura. Mais recentemente, o então Secretário Nacional de Juventude do PMDB, Bruno Júlio, apoiou o massacre do sistema prisional como positivo dizendo que “deviam matar mais”. São fatos que captam essa sede por mudança em meio a um cenário crítico de crise.

A sociedade anseia por mudanças imediatas, porém não pode ser qualquer mudança nem mesmo retrocesso. Neste cenário, não me surpreenderia se elegêssemos Bolsonaro em 2018. É preciso avançar sem perder o que conquistamos até hoje. Mas e o bom senso onde foi parar?

É isso o que preocupa atualmente. O fato de que os fatos e a verdade possam ser preteridos, dando lugar a boatos, imaginarização, idealização como motivação para determinar o destino da humanidade. Seria bom pensar mais e aderir menos às tendências para que não nos tornemos massa de manobra e nada mais.

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