Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Acontece que a vida, principalmente no século 21, é uma grande aventura, inclusive em relação ao conhecimento.

É preciso ensinar desde pequeno a contar com o imprevisível

Rosely Sayão

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"Como ensinar aos filhos que a vida é incerta?". Foi essa a pergunta de uma mãe que se deparou com uma intensa crise do filho. Ele, tendo planejado prestar vestibular, passar e cursar neste ano a faculdade que escolhera, ficou doente e não pôde comparecer ao exame.

Acontece que o jovem ficou inconformado por ter se dedicado durante o ano todo à sua meta: saiu pouco, estudou muito e sentia-se preparado para as provas. Por isso, entrou num desânimo total e está disposto a não fazer a mesma coisa neste ano. Considerei a questão interessante e por isso vamos conversar a esse respeito.

Se você pensar bem, caro leitor, vai perceber que temos agido de um modo que parece nos proteger de tudo o que é incerto, e temos passado isso aos mais novos. Usamos agenda, estabelecemos metas, planejamos o dia, a semana, o mês e assim por diante.

Em relação aos filhos, planejamos seu futuro acreditando piamente que o que fazemos hoje funcionará nas décadas próximas para eles. Achamos importante que tenham rotinas, hábitos, e que isso os ajudará a viver bem no futuro. É por isso que cobramos tanto deles que estudem e sejam bons alunos: para garantir um bom futuro para eles.

Acontece que a vida, principalmente no século 21, é uma grande aventura, inclusive em relação ao conhecimento. O que era considerado certo até outro dia, novos estudos mostram que não é mais. Isso significa que o conhecimento compreende sempre uma ilusão, mesmo que transitória. E como é o conhecimento que nos permite ler a realidade que nos circunda, nossa leitura também corre o risco de estar comprometida.

Viver como um equilibrista: talvez seja essa uma boa lição que podemos ensinar aos filhos. Para ser equilibrista, é preciso ter, ao mesmo tempo, coragem e precaução e, principalmente, contar com a imprevisibilidade.

É preciso também saber previamente que, mesmo tendo treinado muito, dedicado grande parte de seu tempo em busca do equilíbrio na corda bamba, um vento inesperado, um passo em falso ou um leve descontrole corporal pode levar à queda. Para não desistir, o equilibrista precisa de resiliência e de persistência.

Tudo isso precisamos ensinar aos filhos desde que eles são pequenos. Fazemos isso, em geral, nos primeiros anos de vida deles. Quando estão aprendendo a andar, por exemplo, incentivamos que continuem mesmo quando caem, não é? Estamos lá perto, encorajando, chamando, fazendo de tudo para que não desistam. Nesse momento, não podemos andar por eles!

Mas, aos poucos, à medida que crescem, temos a tendência de fazer por eles o que eles podem fazer sozinhos: em vez de encorajar e acolher nas frustrações que sofrem, buscamos estratégias para contorná-las; quando fracassam, mesmo tendo se dedicado, vamos em busca do bom resultado que deveria vir; quando enfrentam os imprevistos, fazemos de tudo para que eles não tenham efeitos na vida dos filhos.

Isso não é bom porque solidifica a ideia, para eles, de que na vida temos o controle de quase tudo e que não há lugar para os imprevistos, para as incertezas.

Pode ser uma boa ideia transmitir aos filhos que é possível que o improvável se realize mais do que o provável, e que precisamos saber esperar o inesperado, como diz Edgar Morin em seu livro "Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro".

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