Tom Cardoso
VENDE-SE UMA PRÓTESE DE TITÂNIO USADA
"João Dória promete privatizar até os cemitérios. Não é piada. Isso me fez lembrar da minha falecida vó Luiza, kardecista doente, criada num palacete da Avenida Paulista, residência dos Cardosos de Almeida. A família de cafeicultores, como muitas da época, perdeu tudo na Crise de 29 e minha avó teve que se acostumar a um novo padrão de vida.
Ela chegou a morar na favela de Americanópolis - era a única da comunidade a ter uma casa razoável, que ela mantinha com a aposentadoria de professora de canto orfeônico da rede municipal.
Quando fez 80 anos, ela teve que gastar boa parte da grana da poupança na compra de uma prótese de titânio, que custou uma fortuna, para atenuar os danos de uma osteoartrose no quadril. Pouco antes de morrer, com quase 90, ela me chamou para fazer um pedido: que, cinco anos depois de seu falecimento, eu fosse até o túmulo dela e retirasse a prótese.
- É o meu presente pra você, o meu neto preferido.
Tô aqui com a prótese. Acabei de anunciá-la no Mercado Livre. Interessados, inbox. É sério. Se o Dória vai ganhar dinheiro com os mortos alheios, por que eu não posso aceitar o mimo de minha querida avó Luiza?"
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