Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

sobre os 30 anos da Companhia das Letras


Sei que tem muita coisa mais importante para reclamar. Mas a Falha dedica uma página aos 30 anos da Companhia das Letras e escolhe um livro por ano para representar a trajetória da editora. No site aparece como "30 anos de Companhia das Letras em 30 capas" 

Só que as capas estão erradas; muitas delas são de reedições posteriores das obras. Já o terceiro livro, A jangada de pedra, de José Saramago, não aparece com a capa cinza original, de 1988, mas com a capa branca que se tornou o padrão dos livros do autor a partir dos anos 2000. Evidentemente, a edição original não ostentava a láurea do Prêmio Nobel de Literatura, que Saramago só receberia dez anos depois.

O livro seguinte, Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, saiu em 1989 com uma capa amarelada, não com a capa vermelha apresentada pelo jornal. Chega de saudade, de Ruy Castro, que representa o livro de 1990, aparece numa reedição que nem da Companhia das Letras é. Estorvo, de Chico Buarque, saiu em 1991 com capa preta, não com a capa alaranjada da reedição. Para não cansar, cito só mais um, Desonra, a obra-prima de J. M. Coetzee, que em 2000 saiu com uma sóbria capa toda em verde escuro, sem os grafismos que passaram a padrão nos livros do autor a partir de 2010 - e sem a láurea do Nobel, que ele só ganhou em 2003.

O trabalho mal-feito do jornal, que imagino que seja fruto de um misto de incompetência, ignorância e preguiça, é um desrespeito aos artistas gráficos que produziram as capas originais e também aos leitores. A Companhia das Letras nasceu como uma editora que "revolucionava" a apresentação dos livros no Brasil. Num país com tradição de capismo criativo e de alta qualidade, seus livros marcaram uma nova etapa. A evolução das capas é parte importante da trajetória da editora. Assim como é significativo ver como envelheceram (mal, na minha opinião) capas que na metade dos anos 1980 eram saudadas como geniais.

Luis Felipe Miguel

Nenhum comentário:

Postar um comentário