Quem tem bom senso não tem por que estar contente com isso.

 
Renato Janine Ribeiro

Um dia ruim. Triste para mim, para muitos brasileiros e para o Brasil. Mesmo quem é contra Dilma, se tiver bom senso, há de reconhecer que dois impeachments em 24 anos são algo traumatizante. Sim, o impeachment está na Constituição. Mas também estão nela o estado de guerra e o estado de emergência.

Não é para usar essas bombas atômicas trivialmente. Não se trata de moção de desconfiança, porque o regime não é parlamentarista. E introduzir o parlamentarismo, depois de rejeitado duas vezes por ampla maioria em plebiscito, exigiria nova consulta popular. Nada disso é trivial.

Para mim, que fui ministro dela, é particularmente chocante. Todos sabem que ela é uma pessoa fechada. Diziam muito que havia uma amizade especial entre ela e Katia Abreu, transcendendo suas origens políticas; mas Dilma não conhecia a história de vida de sua ministra. Havia afeição, não creio que houvesse confidências. 

Também me choca ver ministros dela que votaram pelo impeachment, esta noite no Senado. Não foram poucos. Bom que Armando Monteiro e a própria Katia, que não são de esquerda, lhe foram leais. Mas me pergunto, o que isso significa? que ela não fidelizou sequer colaboradores que deviam ser próximos, seu vice, seus minstros? ou que eles fizeram passar a lógica do ganho à frente do respeito pessoal e institucional?

Quem tem bom senso não tem por que estar contente com isso.