
Fernando Molica
Vi mal o jogo da seleção (o tênis estava espetacular) e não ouvi a bronca do Galvão - mas soube que voltou a cobrar "atitude", aquilo que, antigamente, chamávamos de "raça".Não é por aí, usar um conceito genérico para explicar um fiasco representa apenas uma tentativa de evitar reconhecer problemas mais graves. Pelo que vi, os jogadores correram, se esforçam. Não faltou "atitude", mas talento, talento coletivo e individual.

Falar em "atitude" dá a idéia de que a camisa amarela, se devidamente posta para correr, irá jogar sozinha, vencerá pela força do destino.
Insistir na falta de atitude demonstra dificuldade de se admitir que o futebol brasileiro é apenas mediano, que estamos atrasados em técnica individual e tática coletiva, que o banditismo de clubes e federações nos coloca em desvantagem no confronto com países mais organizados.
O futebol brasileiro foi estruturado para viabilizar a roubalheira dos pilantras de sempre, tem uma lógica muito parecida com a da política. Ao longo de décadas, o talento de nossos jogadores superou os problemas.
Mas a fórmula se mostra esgotada, a própria formação dos jogadores é viciada. Desde pequenos eles são vistos apenas como fonte de geração de grana, acabam aprisionados por empresários, são estimulados a cultivar uma lógica egocêntrica - têm que jogar apenas para eles mesmos. No máximo, aceitam dividir as glórias com Deus.
Acabam mimados, arrogantes, incapazes de pensar num jogo solidário. A individualidade é reforçada por tatuagens, chuteiras de cores histéricas, cortes improváveis dos cabelos - é preciso tornar secundário o uniforme que os torna iguais. Jogam sozinhos, e perdem de forma coletiva.
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