Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

E se eu evitar tudo isso, e afinal for dar em nada... vou andar pela fé, seguir na vida sem cordas pra segurar. Conhe-sereno a verdade: me libertará!

se eu NÃO quiser falar com deus
Se eu NÃO quiser falar com Deus “Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz”... mas tá difícil! d’Eus abunda na cultura de massas. Se subo no ônibus... lá está d’us numa conversa, uma camiseta, um panfleto, no rádio do motorista. Se vou a pé d’Eus me persegue nas vozes fanhas das cantoras exageradas nas caixas de som das lojas de roupa, cuecas, mantas e tênis. Até no $1,99 d’Eus me cercou entre os corredores de coisas de plásticos improváveis e desnecessárias. E na igreja! igrejas... tantas: lá está d’Eus justaposto, simultâneo e onix-presente. “Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus”... mas d’Eus num deixa! me persegue no desvario de padres e pastores ostentação que assanham a tradição, a família e a propriedade de platéias embrutecidas pelo consumo que trabalham para pagar carnê, atualizar a dívida e não perder a conta, ter as mãos cheias ter a alma e o corpo super-vestidos de lycra, inveja e todos os mitos da beleza que não dói, não coça e nem cheira. “Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração” Não quero d’Eus na escola. Não quero d’Eus nas leis nem na política. Não quero crentes e católicos labendo o chão de bancos, mídias e negócios como se d’Eus fosse um sinteco cobrindo realidades podres do poder do pai, patrão, padre, pastor, bispo, arcebispo, deputados, senadores, governantes: expulsaram d’Eus de sua pretensão antiga de infernizar somente as almas para pairar num reality show de mal gosto, alpinistas eclesiais e madames zelosas de sua servidão voluntária. Nem nas minhas regras, meus dias, menstruação, minhas contas e meu desejo de engravidar ou não: não quero d’Eus... me espreitando, me ameaçando.
Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar” Para onde irei? Para onde fugirei de d’Eus que se intromete com sexo, drogas e rock ‘n’roll? DE(u)SOCUPADO se mete nas carnes das gentes e seus desejos, vigia e pune autonomias, celebra e anima medos, normas e padrões zeloso de si mesmo porque foi chamado ELE e acreditou no poder de um seu membro entre as pernas...quando num era nada: só uma suposta aparição incorpórea, mas com sua aparência fantasma, uma evocação obsedante. Nada.
Meu d’Eus: se eu NÃO quiser falar com você terei de evitar todos os tijolos de todos os muros de todos os templos? e todas as guitarras de todos os grupos de todos os louvores de todas as baladas bregas de aleluia amém? e evitar todos os suspiros de todos os gemidos de eróticos louvores engolidos nos cultos de todos orgasmos simulados? e todos os panos de todas as gravatas de todos os pastores e as batinas de todos os padres, e as camisetas das juventudes molhadas de excitação e secas por santidade? e todas as palavras sem rumo, repetidas e gritadas dos intermináveis sermões, apelos, testemunhos e leituras moralistas e violentas?
E se eu evitar tudo isso, e afinal for dar em nada... vou andar pela fé, seguir na vida sem cordas pra segurar. Conhe-sereno a verdade: me libertará!

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