Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 11 de abril de 2016

"sou contra os argumentos que, à margem da insuficiência jurídica, advogam pelo impeachment como um dispositivo de recall governamental."

José Miguel Wisnik

O processo do impeachment em andamento não consegue escapar de ser uma pedalada jurídico-legislativa. Sou contra essa tentativa de virar o jogo institucional destituindo uma presidente da República que, além do mais, corre o risco de ser a única personagem pessoalmente isenta nessa grande embrulhada política. Ao mesmo tempo, sou contra os argumentos que, à margem da insuficiência jurídica, advogam pelo impeachment como um dispositivo de recall governamental, como um meio pragmático de promover a retomada dos negócios, como uma purificação moral da República, e como um julgamento estritamente político que traz no seu bojo aquilo que ele finge reparar, com Temer e Cunha no horizonte imediato, e todo um sistema, PSDB bem incluído, que quer sair ileso daquilo que se abriu do real do país.


Os erros da cúpula do PT são muitos, e o pior foi ter tomado a manipulação crônica da coisa pública pelo interesse particular como uma autorização para jogar a seu modo com as mesmas regras. Com isso, deu munição àqueles que, agarrados à acusação de crimes, não importando se reais ou supostos, e amplificados pelos meios de massa, se horrorizam diante de seu maior acerto: ter esboçado, mesmo que de leve, mudar a cara da desigualdade brasileira. 



JOSÉ MIGUEL WISNIK
67, músico, compositor e ensaísta, professor de literatura brasileira na USP, autor de "O Som e o Sentido" (Companhia das Letras, 1989) e "Veneno Remédio" (Companhia das Letras, 2008)

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