Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 2 de abril de 2015

"ó mátria amada, idolatrada, salve, salve, o meu menino!"

Hino de uma mãe para a mátria amada

Carla Marcondes


Minha mátria amada idolatrada, mãe do meu país de desigual matiz
Cuida do meu petiz, do meu menino de olhos fúlgidos como o sol da liberdade em que eu sempre quis me queimar
Criança crescida no ventre de outra criança, de mãe menininha
Obrigada a usar sapatos de salto e madurar no tempo em que o certo seria verdejar
Sei que o meu rebento pode ser mal educado, pode precisar de castigo, não pense que eu não ligo
Que quando chega em casa de madrugada, surrado e abatido, eu não brigo
Mas não o tratem como crescido, como fera ferida e temida, que grunhe e late por jaula
Isso significa tratá-lo como garoto diminuto
Não é perceber a sua maioridade, sua grandeza, seu potencial
Castigue-no antes com sentença que faz cumprir pena apenas o lápis e o caderno
Sofrer o grafite e cansar as folhas, esgotá-las por completo
Torne possível a maioridade do meu pivete que ora vai ser delinquente em lição de letras 
Quando ele descumprir alguma norma, não tenha piedade, faça ser reincidente a sentença, faça-o reescrevê-la
Ensine o abc, a escrever, o vocabulário e a gramática 
Alfabetizando-o em cidadania, sujeito determinado
Então é chegada a hora da matemática, de ir até a raiz do problema e encontrar a solução 
Achar a causa maior que faz o resultado sempre se repetir 
O mesmo clamor pela maioridade errada, por reduzir o meu mancebo em criatura miúda, bichinho preso
Fecundando, assim, efeito placebo com a violência 
Diga ao meu menino que a mamãe está tomando conta dele
Fazendo em morte o que não pôde fazer antes por falta de recurso no processo da vida
Ele precisa saber que eu o vejo escondida no arrebol toda vez que ele joga e torce pro futebol, vibrando por mais um título
Torço por ele, para ele ganhar o título de doutor e o de seu time também, quero ele bem
Falo com você, mátria minha, como uma mãe fala com outra 
Dê proteção para que a minha criança tenha esperança e queime a pele no sol da liberdade 
Ó mátria amada, idolatrada, salve, salve, o meu menino!

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