Pelo que resulta do meu monitoramento, chamar a presidente Dilma de "vaca" continua sendo a ofensa preferida no Twitter. Para Lula, "analfabeto" e suas variações serviam - e ainda servem -, seguido de perto por "bêbado" e assemelhados.
Meus anos de Antropologia me ensinaram um princípio básico: Dize-me como insultas e eu te direi quem és. "Vaca", nem seria preciso explicar, faz parte de uma família de insultos "zoológicos" (como "piranha", "cadela" e "galinha"), em geral reservada para mulheres, com alusão ao fato de não serem propriamente virtuosas do ponto de vista sexual.
Etnografia Política do Insulto podia ser matéria do ensino médio, agora que os sites de redes sociais transformaram quase todo mundo em comentarista da vida política e concederam arena e visibilidade aos nossos resmungos e impropérios.
Seria legal se os novos publicadores de opinião se dessem conta de que o xingamento revela tanto sobre quem xinga e tão pouco sobre quem é xingado.
Ou vocês não acham revelador que para rebaixar um presidente da República seja bastante dizer que não tem aquilo que se requer para a função (uma vez que é analfabeto ou vive bêbado), mas para ofender uma presidente é preciso degradá-la sexualmente? Sabem o que é mais perturbador nessa história? O perfil dominante de quem chama a presidente de vaca no Twitter é de mulheres muito jovens. Bem, Dilma não se torna mais ou menos vaca em virtude de que este seja o insulto que mais lhe dirigem. Por outro lado, o fato de que quem a quer insultar precise usar um clássico xingamento misógino, cujo propósito seja exatamente promover a degradação da ofendida declarando-a sexualmente promíscua, diz muito sobre todos nós. E é bem assim que somos, um paradoxo: elegemos e reelegemos uma mulher presidente da República com extrema e surpreendente tranquilidade, mas a misoginia nos tocaia cotidianamente e, no primeiro momento de fúria, mostra a sua cara feia.
Wilson Gomes
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