Almanaqueiras: ou não queiras.

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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Por que não Cajazeiras?! Vamos acordar!!!

Onde o conhecimento floresce
Como o estímulo a universitários gera projetos que aumentam a renda de comunidades pobres

Marcelo Moura - Época

A Associação Condomínio Rural Santo Antônio do Crato, no interior do Ceará, vendeu 2.500 quilos de crisântemos para o Dia de Finados. Foi um crescimento de 257% em relação a 2012. “Os meninos deram conselhos para nós”, diz o agricultor José Bonifácio da Silva, de 50 anos. Os “meninos” são alunos da Faculdade de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em Juazeiro do Norte. O agricultor e os estudantes foram unidos pela Enactus, organização sem fins lucrativos que leva universitários para ajudar comunidades carentes. “Os estudantes têm o conhecimento da leitura”, diz Silva. “A gente dá a prática de que eles tanto precisam.”

FERTILIZANTE O agricultor Silva (com o neto no colo) na plantação. Ele recebe orientação técnica da estudante Sheyla (de azul) graças à ONG de Taumaturgo (de camisa verde) (Foto: Rodrigo Carvalho/ÉPOCA)
FERTILIZANTE
O agricultor Silva (com o neto no colo) na plantação. Ele recebe orientação técnica da estudante Sheyla (de azul) graças à ONG de Taumaturgo (de camisa verde) (Foto: Rodrigo Carvalho/ÉPOCA)

Quando a associação começou a produzir, em 2003, cultivar flores era novidade na cidade. A falta de conhecimento técnico quase acabou com o negócio. “Um ano depois, nossa fonte de irrigação secou”, diz Silva. “Depois de 45 dias sem água, perdemos 90% da produção.” Das 24 famílias que formaram a cooperativa, restaram sete. Silva ficou. Seus dois filhos foram trabalhar como pedreiros. O projeto Flores do Cariri, desenvolvido pelos estudantes do IFCE, aprimorou o trabalho da cooperativa. Os estudantes ensinaram técnicas para combater a ferrugem, praga que afeta os crisântemos, principal produto da associação.

“O crisântemo, de pétalas brancas, perde valor comercial quando manchado pela ferrugem”, diz a universitária Sheyla de Freitas, de 21 anos, integrante do projeto. Os estudantes orientam sobre equipamentos de segurança. “A gente já tinha visto palestras em universidades, mas nunca em nosso lugar de cultivo”, diz Silva. Com o aumento da produção, a cooperativa planeja contratar funcionários. Entre eles, os dois filhos de Silva. “Fizemos uma proposta para eles deixarem a construção civil”, diz. “Aqui, podem crescer mais.”

Projeto Generosidade (Foto: ÉPOCA)

A Enactus, que levou os estudantes para os floricultores, foi fundada nos Estados Unidos, em 1975, como um serviço civil voluntário para jovens. Hoje, reúne mais de 65 mil estudantes, de 1.600 universidades, em 36 países. No Brasil, envolve mais de 950 estudantes, de 37 universidades, em dez Estados. Seu desafio é ajudar pessoas de comunidades carentes a empreender. Equipes de estudantes apresentam soluções em competições regionais. Os escolhidos ganham bolsas para executar seus projetos. Os melhores trabalhos regionais disputam o prêmio nacional. E o campeão nacional disputa o torneio mundial. As empresas patrocinadoras ganham a oportunidade de se aproximar de jovens empreendedores. 

“Nos eventos da Enactus, quando eu era estudante de administração, conversei com gente como Colin Butterfield, presidente da Cosan, e Joana Rudiger, gerente de talentos da Unilever”, diz Ítalo Taumaturgo, de 22 anos. Formado pela Universidade Federal do Ceará, em Cariri, Ítalo foi contratado pela Enactus para acompanhar os grupos do Estado. No último ano, eles passaram de um para oito.

O IFCE de Juazeiro do Norte aderiu à competição do Enactus no ano passado. Um grupo de dez alunos de engenharia ambiental apresentou o projeto Flores do Cariri, para dar educação ambiental à cooperativa de floricultores onde Silva trabalha. O projeto foi posto em prática em abril, com duração de um ano. “Não pensava em fazer um projeto com agricultores”, diz Sheyla. “Minha visão de carreira era trabalhar com auditoria ambiental. Agora, quero agir mais perto da terra.”

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