Bossa Nova – Vida & Obra Veja a sensacional matéria sobre João Gilberto, publicada no Planeta Diário, em 1986.

João Gilberto já nasceu problemático. Na sala de parto só concordou em ser parido depois que a equipe médica diminuiu a luz e desligou o ar-condicionado.
Desde a infância Giba revelou-se um chato, um pentelho mesmo, cheio de manias de perfeccionismo. Como exemplo desta personalidade complexa, basta dizer que, para cagar, exigia que a empregada desligasse o aspirador de pó na sala e que os vizinhos baixassem o volume do rádio.
Em toda sua vida, João Gilberto só leu um livro – Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas – mesmo assim só gostou da segunda parte. Esta obra literária mudou sua vida. A partir daí, dedicou-se a influenciar os outros. Influenciou o filho do porteiro, a prima, o sobrinho da vizinha e o tintureiro japonês. Só não influenciou o padeiro, o leiteiro, o açougueiro e o encanador. Esses, quem influenciava era a mãe dele, D. Alzira, que também era dada a essas coisas. João Gilberto, entre outras características peculiares, era pouco modesto e, para conquistar as garotas, decidiu tocar um instrumento musical. Quis primeiro influenciar o violão para que este aprendesse a ele, João Gilberto. Como, depois de muito insistir, não conseguia o seu intento, pela primeira e única vez em toda sua vida, admitiu aprender alguma coisa ao invés de ensiná-la. Mas também não se fez de rogado e influenciou o marceneiro para inventar o banquinho. O panorama musical da era do Giba era muito árido. Dominava uma corrente musical chamada bossa velha, sob o comando de Tito Madi e Bóris Spasky. A bossa velha era um movimento baiano que consistia numa luz, três banquinhos, oito microfones, 15 violões, um agogô, dois pedal phaser e 38 baianos.Era, antes de tudo, pouco prático e antieconômico, principalmente por juntar toda aquela pretalhada que, se não cagava na entrada, cagava na saída ou, ainda pior, em pleno show, vindo inclusive a influenciar o movimento punk. Neste contexto, João decidiu inventar a bossa nova Assim começou uma série de experiências de caráter científico, no sentido de criar um novo som baiano jovem. Na primeira tentativa, reuniu um banquinho, um violão, uma flor e uma canção, mas faltou uma certa proporcionalidade.
Depois de várias tentativas, chegou à fórmula final e ideal: Um banquinho, um violão,um microfone, um baiano de terno sem sapatos, dez babacas e dois pufes.
O resto da história todos sabem. A bossa nova arrebentou a boca do balão. Foi o maior sucesso mesmo, pela sua harmonia nova, seus acordes difíceis que faziam a alegria dos reumatologistas. As primeiras músicas que se tornaram clássicas foram O Barquinho, O Violão, a Flor, o Pato, o Amor, o Banquinho, e Os presos Reunidos na prisão Estadual. Evidentemente aconteceram movimentos contrários à BN, como a contra-bossa nova, liderado por outro baiano, Argemiro Philco, fabricante de cuícas e compressores de ar-condicionado. Houve também desdobramentos positivos: o caderno B tratou de inventar um novo movimento: o pós bossa Nova.
E o João Gilberto, cadê o João Gilberto, o Gilba continuou pela vida afora influenciando os outros. Influenciou Chico Buarque de Hollanda para comer a irmã dele. Influenciou Caetano Veloso e Gilberto Gil a irem embora da Bahia, influenciou Baden Powell a virar escoteiro e ultimamente tem influenciado a filha a trabalhar pra ele.
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