CAJAZEIRAS - MEMÓRIAS XV
Pereira Filho
ROSÁRIO DE CÔCOS
Lembro-me que Tia Santina, irmã da minha mãe, dona Bia, que
morava no Sítio Rita, em Monte Horebe, na Paraíba, com uma vara bem grande,
derrubava os cachos de côcos ouricuri, botava pra secar no lajeiro por alguns
dias e depois de secos quebrava as cascas para tirar o côco. Para tia Santina
fazer um rosário de côco, ela enfiava uma linha de croá numa média de vinte a
trinta côcos, até formar um círculo, formando um colar. Ela vendia para seu Antônio,
que ia até o Sítio Rita buscar. Certa vez, andando pela feira de Cajazeiras,
avistei um garoto falando bem alto: “Ói o rosário de côco, feito ainda hoje! Ao
escutar isso, falei: “Ôxente, vou comprar um agora!”. Chamei o garoto que estava
sem camisa, mas ela estava enrolada na cintura. Suando (já passava de meio dia)
e carregando vários rosários nas mãos, perguntei quanto custava e, ao ouvir a
resposta, percebí que minhas moedas dariam para comprar um rosário. Fiz o
pagamento e após colocar o dinheiro na pochete, o garoto, em um gesto rápido,
joga todos os rosários nas costas suada, de modo a facilitar a tirada de um rosário
para me entregar. Recebí a mercadoria com um pouco de nojo, mas, enfim, nada
que uma boa lavada não resolvesse. Depois de lavado, era só colocar no pescoço
e comer os côcos até matar a vontade.
JOVEM CLUBE
O Jovem Clube de Cajazeiras funcionava em cima da
sorveteria do pai de Everardo e também da sinuca de Dedé do chapéu, na Avenida
Presidente João Pessoa. A parte que funcionava em cima da sorveteria era de
laje (concreto), que era uma área livre. Já a parte interna do clube, ficava em
cima da sinuca e o piso era de madeira (tablado). Na entrada do clube ficava o
porteiro Pedro Revoltoso com aquela cara de durão, sisudo e não deixava ninguém
entrar sem pagar. Já dentro do clube, ficava o DJ Dantinha, comandando a tertúlia
com músicas românticas e os casais agarradinhos ou soltos conforme a música. Na
área livre, tinha uma paredinha que ficava colada à marquise da sorveteria, e lá,
jovens se sentavam para beber e bater papo. No Carnaval, quando as pessoas
pulavam no salão, o piso de madeira (tablado) balançava em pequena proporção. Dedé
do chapéu e os jogadores que estavam jogando sinuca, nessa hora, ficavam a
olhar e comentar algo sobre se o piso caísse naquele momento. Dedé falava: “só espero
que não caiam em cima do meu chapéu, pra não amassar”. A risada era geral.
JEEP 4 PORTAS
No início dos anos sessenta a Praça dos Carros de Cajazeiras
tinha como veículos de corrida Jeeps e Rurais Willys. A maioria dos Jeeps era
de carroceria curta que levava no máximo dois passageiros no banco da frente,
ao lado do motorista e quatro no banco traseiro. Total de sete pessoas. Já o
Jeep quatro portas, ou Bernardão, como era apelidado, carregava dois
passageiros no banco dianteiro ao lado do motorista, mais quatro no banco
traseiro e ainda quatro na carroceria, porque lá havia dois banquinhos na traseira.
No total de dez passageiros mais o motorista. A minha mãe, dona Bia, quando ia
passear no Sítio Rita, em Monte Horebe, na casa de meus avós, ela sempre
alugava um Jeep 4 portas, porque a meninada era grande. Dez filhos e ela. O
motorista desse Jeep era Januário, irmão de Luiz, também motorista, na Praça
dos Carros. Naquela época, as estradas eram de chão batido e muitos buracos. Quando
chovia, a situação ficava ruim, porque às vezes, o carro grande poderia atolar.
Saindo de Cajazeiras, a 37 km chega-se a São José de Piranhas (Jatobá) e a
partir daí, tinha a subida da serra de quase cinco kms, com suas curvas
perigosas e dez kms adiante, chega-se a Monte Horebe. A viagem sempre era
divertida, porque a meninada fazia aquele fuzuê.
ALMAIR FURTADO
No final dos anos sessenta Almair Furtado saiu de Bonito de
Santa Fé, Paraíba, para estudar e trabalhar em Cajazeiras. Lá ingressou na Rádio
Alto Piranhas, conhecida como a Rádio do Bispo, então patrimônio da Diocese
Cajazeirense. Nessa época, ele morava junto com seus irmãos Amaury, Itamar e
Graça, próximo a Praça Camilo de Holanda. Era um excelente profissional,
prestativo, amigo dos amigos e pessoa simples. Tive a honra de trabalhar com
ele em 1971 na Alto Piranhas. Lembro dele apresentando programas ou lendo notícias
com o gesto que fazia, colocando a mão esquerda em forma de concha, na orelha
para ouvir melhor o som que ecoava no ouvido. Esse gesto foi feito por Chico Anísio,
tempos depois, nos anos 90, imitando a voz do locutor Hélio Ribeiro, da Rádio
Bandeirantes São Paulo, no papel de Roberval Taylor, do programa humorístico
Chico Anisio, da Rede Globo. Almair Furtado faleceu em Cajazeiras de acidente
automobilístico. Almair foi agraciado pela Câmara Municipal de Cajazeiras que
concedeu o título de uma rua com o nome Rua Francisco Almair Furtado, Bairro
Sol Nascente, Cajazeiras.
PEREIRA FILHO
Radialista
Rádio Nacional de Brasilia


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