"Efeito Dilma" teve peso relativo nas eleições municipais na Paraíba
Nonato Guedes
Líderes políticos de diferentes partidos avaliam que o "efeito Dilma", alardeado como decisivo nas eleições municipais de 2012, para a eleição de mulheres a prefeituras municipais, teve um peso relativo na disputa travada na Paraíba. Pelo menos nos dois maiores colégios eleitorais do Estado - João Pessoa e Campina Grande, o impacto da ascensão de Dilma Rousseff à presidência da República em 2010 não funcionou. Em João Pessoa, supostamente inspirado por essa estratégia, o governador Ricardo Coutinho (PSB) lançou a candidatura da ex-secretária de Planejamento municipal, Estelizabel Bezerra, sacrificando a pretensão de Luciano Agra em concorrer à reeleição. Estelizabel, que nunca havia disputado cargos políticos, chegou a ter um desempenho surpreendente, alcançando a terceira posição na colocação dos votados, mas não avançou para o segundo turno, que acabou sendo disputado pelo senador Cícero Lucena (PSDB) e pelo deputado estadual Luciano Cartaxo (PT), com a vitória deste, apoiado por Agra.
Estelizabel demonstrou preparo e conhecimento dos problemas cruciais da população pessoense, bem como competência para apontar alternativas que equacionassem essas demandas, o que foi reconhecido até por adversários políticos. Mas o fato de ser estreante no páreo, sem muita visibilidade, e de enfrentar efeito colateral do suposto desgaste do governo Ricardo Coutinho, que se atritou com segmentos do funcionalismo e categorias sociais, teria sido determinante para bloquear um crescimento mais expressivo da sua postulação. Também concorreu à prefeitura a professora Lourdes Sarmento, do PCO, que, repetindo uma praxe, teve percentual irrisório nas intenções de voto proclamadas como resultado da disputa. Em Campina Grande, a deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP, irmã do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, largou na liderança do páreo, apresentando-se como "terceira via" entre esquemas políticos tradicionais que têm se revezado no comando da prefeitura. Daniella enfrentou problemas múltiplos, inclusive, relacionados à aliança com o Partido dos Trabalhadores, que acabou sendo desautorizada pela Justiça. Ela despencou subitamente nas pesquisas e não conseguiu marcar presença no segundo turno. Queixou-se que foi vítima do rolo compressor de duas máquinas, uma comandada pelo prefeito veneziano Vital, do PMDB, a outra liderada pelo senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. O grupo de Veneziano logrou ejetar a candidata Tatiana Medeiros, ex-secretária de Saúde, para o segundo turno, contra Romero Rodrigues, e avalia que a postulante chegou a ter um desempenho surpreendente, tanto assim que ganhou cacife para disputas futuras. Romero Rodrigues, contudo, saiu vitorioso, beneficiando-se, inclusive, de fatores emocionais. Ele lançou como vice o advogado e empresário Ronaldo Cunha Lima Filho, irmão de Cássio e filho do poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima, que faleceu em plena preparação da campanha eleitoral. Contou, igualmente, a favor de Romero, o empenho de lideranças como Cássio e o vice-governador Rômulo Gouveia, que é presidente do PSD. A própria experiência do parlamentar, que foi vereador e deputado estadual, fortaleceu as suas chances no páreo. Em todo o caso, foi uma disputa acirrada e pontuada por troca de acusações entre os grupos de Veneziano e Cunha Lima.
Em cidades médias e pequenas da Paraíba, o "efeito Dilma" acabou se reproduzindo em outras proporções. Em Cajazeiras, no alto sertão paraibano, a médica Denise Oliveira, do PSB, ingressou na disputa na última hora, devido à impugnação do marido, o ex-prefeito Carlos Antônio, do DEM, envolvido em pendências judiciais. Denise enfrentou o atual prefeito, Carlos Rafael, do PTB, e materializou o projeto de se tornar primeira prefeita da terra que ensinou a Paraíba a ler, conforme o jargão popularizado entre os cajazeirenses. Mas, nos discursos pronunciados na campanha, a prefeita eleita sempre deixou claro que estava preenchendo o lugar do marido, e que Carlos Antônio, na verdade, era o sujeito oculto da disputa. O marido da prefeita eleita teve papel decisivo nas articulações políticas e na estratégia de campanha montada para bater o atual prefeito, que assumira o cargo com a renúncia de Leonid Abreu, filho do deputado estadual Antônio Vituriano, do PSC. Denise contou com o reforço do deputado estadual José Aldemir Meirelles e do próprio governador Ricardo Coutinho, que prometeu ajudá-la a enfrentar desafios administrativos. Na cidade de Patos, a deputada Francisca Motta, do PMDB, foi eleita concorrendo contra Dinaldo Wanderley Filho, do DEM. Francisca Motta teve o apoio do atual prefeito, Nabor Wanderley, e de lideranças partidárias como o ex-governador José Maranhão e o senador Vital Filho. Um detalhe: a presidente Dilma Rousseff não marcou presença em nenhum palanque na Paraíba, alegando compromissos administrativos em Brasília e dedicação prioritária à campanha de Fernando Haddad, em São Paulo, que derrotou o ex-ministro José Serra na disputa. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda veio a João Pessoa, no segundo turno, pedir votos para Luciano Cartaxo, que acabou consagrado. "A conquista de espaços pelas mulheres ainda é um processo lento, mas tende a se acentuar a cada eleição", observa a deputada Francisca Motta, enquanto se prepara para assumir os destinos da Rainha das Espinharas.
Fonte ReporterPB




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