Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O poeta Cajazeirense Aldo Lins, radicado no Recife.

Os poemas de Aldo Lins



O GUIA


Na rua 24,

Havia um menino

Que sabia onde morava

Um médico, um açougueiro,

Um engraxate, um sapateiro,

Um jornalista, um carteiro,

Um motorista, um coveiro.


Na rua 24,

Havia um menino

Que sabia onde morava

Um malabarista, um engenheiro

Um pintor, um cozinheiro,

Um soldado, um ferreiro,

Um padre, um padeiro.


Na rua 24,

Havia um menino

Que sabia onde morava

Um advogado, uma prostituta,

Um músico, um sineiro,

Um garçom, um enfermeiro,

Um professor, um biscateiro.
 
Mas ninguém sabia do menino

Que não tinha onde morar.


ESTATÍSTICA

Na rua São João

João morreu atropelado.

Na rua Santa Maria

Morreu Maria assassinada.

Na rua São jorge

Jorge morreu drogado.

Na rua dos navegantes

Pedro morreu afogado.

Numa rua sem nome

Um corpo não foi identificado.

Na parada do ônibus

Uma criança espera seu anjo da guarda.


CACHAÇATÔMICA

Me armei com o copo e a espada

E a minha lança perfumada

Como um infante

Que perdeu a infância

E a minha infantaria.

Não reconheci o meu inimigo

Só no espelho o coração ferido

Como um cavaleiro

Que perdeu a dama

E a cavalaria.

Arremessei cem copos

De goela abaixo

E atravessei a rua

Como um artilheiro

Que perdeu o gol

E a artilharia.




REGRESSO

Devolvam-me

Meu castelo, minha espada, meu anel

E as fotografias amarelas guardadas

Na minha cômoda de cristal

Devolvam-me O credo para atravessar fronteiras

E o espelho d'água entre as dunas

Onde eu fazia a lua para brincar


Devolvam-me

A minha tabuada mágica

E as histórias de um vento azul

Que traziam anjos às madrugadas


Devolvam-me

Meu uni-verso, suspiro poéticos e saudades

De andar a pé, olhar o céu, cantar um fado

No Pátio das Flores, no Arco das Portas do Mar.


A JANELA
 
Deste ângulo vejo os escombros

Onde antes eram castelos

E reinava a fantasia

De minha pequenez
 
E a solidão e o desconforto das ruas

Violência que converte transfigura

Com suas botas de sete léguas

Ao silêncio de uma cova escura

Da janela, vejo uma naja

Brotando no colo das flores

Desenhos fantásticos surgidos

Nas ruínas do muro de arrimo


Da janela, ouço o grito do sangue dos oprimidos

Onde antes eu ouvia o canto do sabiá

E eu nem sabia como era sábia

A vida de quem chorou

Quando não o encontrou mais a cantar.





SÚPLICA


A cavalgar os mares do teu corpo

Sereia de cactos e juazeiro

De mãos de seda e de marfim

Cabelos soltos graúnas

Nos cata-ventos bálsamo de alecrim

Iluminai

Oh! Rosa linda, o meu olhar

Porque guardo na algibeira o teu retrato

A casa nua na montanha

A estiagem nos pastos da aldeia

Que nem a tristeza estridente de um faquir

Com os seus ruídos enegrecidos de agonia

Apagará em mim teu brilho



Quem é Aldo Lins:


Aldo Lins nasceu em Cajazeiras, em 1959. Participou no final da década de 70 e início de 80 de um grupo alternativo de teatro que tinha como principal liderança o ator e diretor cajazeirense, Tarcisio Siqueira. Nesse mesmo período, chegou a fazer parte o elenco de atores do Grupo de Teatro Mandacaru, formados por jovens amadores da “Engenheiro Carlos Pires de Sá.” Na segunda metade da década de 80, veio morar em João Pessoa para fazer um curso Universitário. Em João Pessoa, Aldo Lins publicou artigos na Revista Bazar e nos principais Jornais de nossa capital.
É radicado em Recife desde o final da década de 90, onde se engajou nos movimentos de poesia alternativa da cidade, publicando poemas em revistas e fanzines. Autor em parceria com o poeta José Terra, do projeto Hospício Poético - o canto mais lúcido do Recife. Que reuniu uma coletânea de recitais mensais que ocorreu entre os anos de 2003 e 2004. Iniciativa bem sucedida que repercutiram na paisagem urbana da capital pernambucana. Através do IDS - Instituto de Desenvolvimento Social coordena o Recital Poético Canta Boa Vista que reúne desde o ano de 2007, uma grande quantidade de poetas e declamadores entorno da divulgação da poesia. Atualmente ministra através da FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - oficinas literárias para a Rede Estadual de Ensino. É autor do livro Alma de Vidro, editado em 2002. Participou em 2004, da Marginal Recife: coletânea poética III, organizada por Cida Pedrosa, Miró e Valmir Jordão da Fundação de Cultura Cidade do Recife.


(Fotos ilustrativas arquivoNet Ac2b-bira)

Fonte Blog CajazeirasdeAmor

Ensinai

Um comentário:

  1. Meus queridos conterrâneos, quero agradecer a todos pela divulgação da minha poesia pelo mundo.
    Saudações Literárias.

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