As festas juninas vêm aí e, apesar das proibições, o Brasil continua a soltar balões; domingo, um dos mais longevos e bem-sucedidos vazou: a Lava-Jato
Arnaldo Bloch
As festas juninas vêm aí e, apesar das proibições, o Brasil continua a soltar balões: só o presidente da República alça pelo menos um balão de ensaio por dia, que se choca com os balões parlamentares e judiciários, entornando a canjica do povo. Domingo, a quatro dias de Santo Antônio, um de nossos balões mais longevos e bem-sucedidos vazou: a Lava-Jato, num estouro imediatamente hashtagueado sob a alcunha de #vazajato e visto como criminoso por baloneiros de carteirinha.
Sejamos francos: faz já um bom tempo que o Brasil é movido a vazamentos. Legalmente ou extrajudicialmente, seletivamente ou de um só estouro, a bexiga nacional é disputada a tapas, agulhadas, beliscões e delações. Já faz dois anos que Joesley gravou e vazou os balões de Temer e Aécio, mandando para o espaço um zeppelin de “certezas”. Antes, Moro lançou ao ar o sigilo telefônico da então presidente da República, vazando o balão da constitucionalidade.
Foi um festival de balões, com seus furos e contrafuros. Moro acabou, autocraticamente, estufando e empinando o seu próprio balão, apesar das escusas. Dirigíveis vermelhos murcharam nos céus num apito atroz. Balões exóticos, como o de Bessias, na verdade Jorge Messias, profetizaram a vinda de outro Messias, Jair, sob cuja rédea o país ora ora (advérbio e verbo).
Mais recentemente, em perfeito timing pré-eleitoral, o juiz alçou um pombo sem asas à guisa de balão, que vazou em proveito do mesmo Messias, que, de tanto não dizer ao que vinha, veio. E, junto com ele, foi também o juiz que queria ser rei, numa apoteose de artifícios.
Por isso soa tão irônico, como uma troça de São João, ver essa estrela insurgir-se, com suas rugas e rusgas, contra os azares dos seus vazares pessoais imiscuídos na função pública. Afinal, ele é autoridade em tornar público o que é privado, e depois escusar-se, em nome da pátria, esse balão cultural.
O ofício de Moro em vazar valeu-lhe seu quinhão na cena política. A vaidade rude que sempre emoldurou, nas têmporas tensas, seu sorriso crispado, vem contudo sendo vazada pelo senhor capitão. A cada passagem pela fogueira, chamusca-se a lona.
No fim da via crucis , na távola do olimpo magistral, ele vê uma cadeira caramelo para chamar de sua. Irá o povo às ruas pelo seu legado alardeado em palestras e outras festas? Quem soprará o fole, impedindo que vaze de vez o aeróstato de São Juiz? Ou, quem sabe, levando-o, acidentalmente, aos patamares temidos pelo grande irmão baloneiro?
Poderia ele ter levado a cabo sua missão, que lá com todas as suas contradições, excessos, conduções, alçapões, coerções, tinha os seus muitos méritos. Teria sido, ao menos, coerente com o que se propôs.
Mas sua sede de tudo poder, de tudo mudar, de se sobrepor às instituições; sua pretensão de chamamento divino (que hoje habita o delírio de metade dos homens públicos) e outras fraquezas fizeram que o seu hindenburg superaquecesse. Agora, uma nuvem de chumbo, hélio, enxofre, hidrogênio, escapou do tanque da história. “Olha a chuva! É mentira!”, já ecoam os arraiais. Se não for um dilúvio, teremos tempo de aprender que um dos sinônimos de balão é balela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário