Afrouxar regras faz pouco sentido num país com violência apavorante nas pistas
A fixação de Jair Bolsonaro por multas de trânsito é antiga. Em 2010, o então deputado tentou revogar a exigência do uso de cadeirinhas para crianças nos carros. O parlamentar afirmava que as exceções abertas para táxis e veículos escolares criavam privilégios e configuravam “uma forma de aplicação extorsiva” de penalidades aos pais.
Algum bom senso prevaleceu na Câmara, que rejeitou a proposta seis anos depois. Bolsonaro, contudo, não desistiu. O projeto enviado nesta terça-feira (4) pelo presidente ao Congresso para alterar o Código de Trânsito quer acabar com a cobrança de multa para quem transportar crianças de maneira irregular.
Sob o argumento fajuto da eficiência e da redução do peso do Estado, o governo acaba com radares que punem motoristas que saem voando por aí, tenta suspender a obrigatoriedade do exame de drogas para caminhoneiros e propõe voltar ao passado na questão das cadeirinhas.
Obcecado pelas multas, Bolsonaro dá de ombros para a segurança nas ruas e rodovias. O porta-voz do Planalto disse que estudos de risco sempre são feitos quando o presidente apresenta um projeto, mas afirmou que, neste caso, eles “não necessariamente” serão divulgados.
No texto, o governo propôs acabar com a exigência de exame toxicológico para motoristas que trabalham dirigindo caminhões e ônibus. “O presidente considera essencial tratar os profissionais com respeito e boa-fé”, declarou o porta-voz, num claro aceno a eleitores bolsonaristas.
O afrouxamento dessas regras faz pouco sentido num país em que a violência nas pistas é apavorante. No ano passado, o país registrou 46 mil pedidos de indenização por morte em acidentes e 459 mil por invalidez.
Quando decidiu acabar com radares nas estradas, em maio, Bolsonaro disse que “ninguém é otário” de entrar numa curva em alta velocidade. “Não precisa ter pardal para multar o cara”, afirmou. O presidente se vende como um político rigoroso, mas se apressa para livrar quem descumpre a lei no trânsito.
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