Bolsonaro e Macri, a mágica que não apareceu
O encontro desta quinta-feira (6) entre os presidentes Mauricio Macri e Jair Bolsonaro, além da ginástica diplomática habitual, será também a posta em cena das ilusões perdidas (ou quase).
Clóvis Rossi
Vejamos, para começar, análise do historiador argentino Alejandro Poli Gonzalvo, em artigo para La Nación no dia 14 de maio: “Boa parte da sociedade se sente desencantada [com Macri] porque ninguém antecipou que sair da devastação produzida pelo populismo seria uma tarefa difícil e amarga”.
Vale para Macri, vale para Bolsonaro. Ambos foram eleitos a partir de um pensamento mágico. No caso da Argentina, o de que bastava derrotar a populista de turno (no caso Cristina Fernández de Kirchner) para que se instalasse a felicidade nacional bruta.
No caso de Bolsonaro, bastaria derrotar o PT para que tudo que havia de errado se corrigisse automaticamente.
No caso de Bolsonaro, não está sendo bem assim. Mas, com Macri, é muito pior: o Fundo Monetário Internacional calcula uma inflação de 43,7% para este ano, mas alguns economistas apostam em 50%. A economia se contraiu 2,5% no ano passado e se prevê retrocesso de 1,2% em 2019.
O risco país, medido pela JP Morgan, chegou, na segunda-feira (3) ao pico em mais de cinco anos (64 meses exatamente), para situar-se em 1008 pontos. Recuou algo na terça, mas ainda assim está absurdamente alto e demonstra que os agentes econômicos desconfiam de um presidente que haviam apoiado com fé e vigor.
Há outra estatística negativa, embora os agentes econômicos prestem pouca atenção a ela: a pobreza machuca hoje 32% da população argentina (dados de dezembro de 2018), o mesmo nível de quando Macri tomou posse em 2015. Ou, posto de outra forma, a mágica que se esperava de Macri não se deu nem nos mercados nem na rua.
No caso do Brasil, o quadro não é muito diferente: economia encolheu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao trimestre final do ano passado, segundo os dados do IBGE divulgados na quinta-feira (30).
Os brasileiros ainda estão 8,6% mais pobres, em média, do que no primeiro trimestre de 2014, logo antes do início da recessão.
Ou seja, Bolsonaro ainda não foi capaz de operar a mágica ilusoriamente vendida durante a campanha eleitoral.
Mas é justo estabelecer claras diferenças entre um presidente e outro, a começar pelo fato de que, no Brasil, a inflação não é um castigo tão violento como ocorre na Argentina.
Mais: é cedo para julgar o desempenho econômico de Bolsonaro, no cargo faz só cinco meses e alguns dias. Macri, ao contrário, já está no ponto para o julgamento que vale, o das urnas. Submete-se em outubro a uma eleição que, até um ano atrás, parecia um piquenique no parque.
De todo modo, fica evidente, em um caso como no outro, que é fácil — e tentador — acreditar em mágica. A América Latina toda é vítima habitual desse tipo de sentimento.
A vida real, no entanto, é como escreve a Economist esta semana, em análise que se estende a outro país de presidente novo (Andrés Manuel López Obrador, no México): “Nos três primeiros meses deste ano, as três maiores economias [latino-americanas] —Brasil, México e Argentina— parecem haver sofrido contração ou tiveram performance fraca, (...) o que significa que a América Latina está ficando para trás”.
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