Mulheres são sub-representadas em pesquisas de novas drogas e terapias
Estão certas as mulheres ao cobrar da indústria farmacêutica que utilize mais cobaias do sexo feminino em seus ensaios clínicos. Como mostrou reportagem da minha amiga Cláudia Collucci, mulheres estão sub-representadas em praticamente todas as áreas e fases das pesquisas de novas drogas e terapias.
Até nas etapas experimentais, em que os testes são feitos com animais, há preponderância de machos. O viés se repete na ciência básica.
É verdade que a situação já foi pior. Em 1989, o clássico estudo que recomendou o uso de doses baixas de aspirina para reduzir o risco de doenças cardiovasculares envolveu 22 mil homens e nenhuma mulher. Hoje, na cardiologia, cerca de um terço dos participantes de ensaios clínicos são do sexo feminino.
Não há razão para cairmos na obsessão da divisão 50-50. A matemática é perfeitamente capaz de compensar eventuais discrepâncias. É fundamental apenas que o número de mulheres seja elevado o bastante para permitir que se extraiam conclusões válidas para o universo feminino como um todo bem como para eventuais subgrupos de interesse, tipo mulheres pós-menopausa, mulheres com doença cardíaca prévia etc.
E por que é importante que as mulheres estejam convenientemente representadas na pesquisa médica? A resposta é óbvia. Existem diferenças genéticas, bioquímicas e fisiológicas entre os sexos e elas podem afetar a resposta ao fármaco, além de exigir ajustes de dose ou de regime terapêutico.
É aqui que alas mais radicais do movimento feminista, que afirmam que as diferenças de gênero não passam de uma construção social, ficam em maus lençóis. Se admitimos que componentes sexuais da biologia influem nos efeitos de medicamentos, como sustentar que eles deixam de atuar quando entramos no terreno de preferências e comportamentos? Haveria uma barreira metafísica a proteger nossas mentes da animalidade? Eu receio que não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário