Klecius Caldas integrou o núcleo militar da música brasileira
Alvaro Costa e Silva
Klecius Pennafort Caldas viveu tempos interessantes. Interessantes na concepção chinesa: época de agitação, mudanças, dificuldades. Nasceu em 1919, rodeado pelos mortos da gripe espanhola no rastro da Primeira Guerra. Pegou as melindrosas e viu o cinema mudo falar; o estouro da bolsa de Nova York; Hitler e Mussolini; Pearl Habor e a bomba de Hiroshima; o homem na lua.
Assistiu ao muro de Berlim cair, “sepultando o comunismo em todo o mundo, menos na China, talvez o único lugar onde poderia ter dado certo mas não deu, e no Brasil, onde continua sendo uma piada, pois realmente nunca existiu”, escreveu ele num divertido livro de memórias, “Pelas Esquinas do Rio”.
Klecius brincou o corso, estudou no Pedro II (colégio que o governo está condenando ao desaparecimento com o corte de verbas), andou de bonde e conheceu Noel Rosa no ponto dos Cem Réis, em Vila Isabel. Foi íntimo de Francisco Alves, Braguinha, Dircinha e Linda Batista, Blecaute, Geraldo Pereira.
Coronel do Exército, fez parte do núcleo militar da música brasileira: o mais constante parceiro, Armando Cavalcanti, general; outros dois, Rutinaldo e Luiz Antônio, coronéis. Sua especialidade eram as marchinhas carnavalescas (“Piada de Salão”, “Maria Escandalosa”, “Papai Adão”). E mandava bem no samba-canção: “Somos Dois”, com Dick Farney no gogó, é um luxo só.
Nesta segunda (6), transcorreu o centenário de nascimento do letrista Klecius. Sua sensibilidade e bom humor fazem faltam aos nossos tempos interessantes.
Eduardo Bolsonaro publicou um tuíte com as seguintes palavras (ou seria melhor dizer caracteres reunidos?): “bainods, rdees soaicis, fkae nwes, diucsrso de óido, baindos, esqreuda”. A reforma da Previdência pode não passar, mas a da língua portuguesa já anda em curso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário