O candidato de Bozo vive sua pior hora
Clóvis Rossi
A greve geral desta quarta-feira (29) na Argentina —rotulada como “contundente” pelo canal TodoNotícias— é mais um prego no caixão da candidatura à reeleição do presidente Mauricio Macri.
Assim é vista pelos dois lados do tabuleiro político. Para Hugo Moyano, líder dos caminhoneiros e peronista, “o nível de adesão é uma demonstração a mais do repúdio que geram as políticas deste governo”.
Há um pouco de cinismo nessa afirmação: a paralisação dos meios de transporte —todos, metrô, trens, ônibus— acaba forçando elevado “nível de adesão”, porque, como é óbvio, até quem não pretendia aderir fica sem meios de chegar ao trabalho.
Mas Moyano também tem certa razão: a popularidade de Macri está no seu ponto mais baixo, o que é, obviamente, sinal de repúdio às suas políticas.
No lado governista, José Cano, deputado da UCR (União Cívica Radical, aliada à Cambiemos, a agrupação macrista), diz que “a greve tem mais a ver com a identificação política dos sindicalistas com a chapa que integra Cristina Fernández de Kirchner do que com as demandas dos trabalhadores”.
Ora, se houve uma greve “contundente” é porque está forte a chapa Alberto Fernández/Cristina Fernández de Kirchner, lançada na semana passada pela própria ex-presidente. Má notícia, portanto, para Jair Bolsonaro, que não para de prever o apocalipse no vizinho se ela vencer.
Por que é mais um prego no caixão da candidatura Macri? Porque a greve —com todo o peso simbólico e midiático que carrega —acontece em momento de tremendas dificuldades para o presidente.
Os problemas econômicos são conhecidos: o Fundo Monetário Internacional calcula uma inflação de 43,7% para este ano, mas alguns economistas apostam em 50%. A economia se contraiu 2,5% no ano passado e se prevê retrocesso de 1,2% em 2019.
Que candidato pode se reeleger com inflação descontrolada e economia andando para trás?
O que fecha o cenário de problemas para Macri é o fato de que todas as pesquisas mais recentes põem a chapa kirchnerista à frente do presidente no primeiro turno e dão a ela a vitória em eventual segundo e decisivo turno.
Uma greve geral com amplo acatamento —de resto, a quinta nos três anos e meio de governo Macri— é, portanto, tudo o que ele dispensaria.
Claro que é prematuro achar que a paralisação basta para fechar o caixão do presidente e partir para o sepultamento. Mas os sinais de luto vão pipocando.
A UCR, companheira de viagem de Macri, exige que a candidatura da coalizão Cambiemos seja decidida em primárias, e não imposta de cima para baixo.
As primárias são impostas por lei. Levam a sigla PASO (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) e estão marcadas para 11 de agosto. Até que a crise se instalasse em meados de 2018, dava-se como certo que Macri seria candidato único nas primárias de Cambiemos. A exigência da UCR indica que se instalou a dúvida no território governista.
Tanta dúvida que se fala, em voz baixa, de trocar Macri pela governadora da província de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, jovem (45 anos), carismática e menos desgastada.
É pouco razoável, no entanto, supor que Macri renuncie à candidatura. Seria confessar o fracasso. E, de quebra, pode não resolver o problema: a chapa kirchnerista ganha também de Maria Eugenia nas pesquisas.
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