Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 5 de abril de 2019

é um poço de decepção

"Bolsonaro frustrou o premier Netanyahu, irritou a oposição israelense, provocou insatisfação entre outras nações do Oriente Médio, ignorou os muçulmanos e os cristãos da Terra Santa e desrespeitou os palestinos" 

Guga Chacra 

Frustrações e desrespeito na visita de Bolsonaro a Israel

Jair Bolsonaro frustrou o premier Benjamin Netanyahu, irritou a oposição israelense, provocou insatisfação entre outras nações do Oriente Médio, ignorou os muçulmanos e os cristãos da Terra Santa e desrespeitou os palestinos. Abaixo, comentarei cada um dos pontos.

Netanyahu: O premier israelense viajou ao Brasil e teve a garantia de que Bolsonaro transferiria a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém. Não era algo impossível, apesar da forte pressão contrária. Donald Trump fez a transferência da embaixada americana. A Guatemala também. Netanyahu, indiciado por corrupção, esperava o mesmo para poder usar como mais uma conquista para a sua base nacionalista e religiosa às vésperas da eleição. Não conseguiu. De positivo, avançou na relação dos dois países, que já tinham melhorado com Michel Temer.

Oposição de Israel: Os opositores israelenses ficaram irritados com a decisão de Bolsonaro de ir ao país dias antes da eleição parlamentar. Sabem que o brasileiro é usado como propaganda por Netanyahu. Ao mesmo tempo, opositores israelenses repudiam certas posições atribuídas ao presidente brasileiro sobra a minoria LGBT+, ao aquecimento global e sobre o nazismo — em Israel, há consenso de que o nazismo foi de extrema direita, conforme deixa claro o Yad Vashem (Museu do Holocausto) em Jerusalém. Dizer que é de esquerda passa uma imagem de ignorância.

Nações do Oriente Médio: Além da questão de Jerusalém, os governos da região estranharam que Bolsonaro não tenha visitado a Palestina ou um país árabe na mesma viagem. Bastava incluir uma passagem por Amã para se reunir com o neutro e respeitado rei Abdullah. Viram a decisão como uma atitude antiárabe.

Autoridade Nacional Palestina: Bolsonaro foi convidado para se encontrar com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e com outros líderes da Autoridade Nacional Palestina, além de figuras da sociedade civil palestina. Todos os convites foram ignorados. Os palestinos entendem que há governos mais inclinados a defender Israel. Mas chefes de governo e de Estado de democracias ocidentais costumam visitar sempre o lado palestino, até para se manifestarem a favor do processo de paz ou para demandar as ações da Autoridade Nacional Palestina. Bolsonaro tampouco mencionou os assentamentos israelenses na Cisjordânia, algo raro para um líder internacional.

Muçulmanos e cristãos da Terra Santa: Bolsonaro não visitou nenhum lugar sagrado para os muçulmanos na viagem, como o Domo da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa. Seria um gesto de respeito, ainda mais porque ele, corretamente, esteve no Muro das Lamentações. Em agenda privada, esteve no Santo Sepulcro, mas não marcou encontro com nenhuma autoridade cristã da Terra Santa de igrejas como a Greco-Ortodoxa, Católica e Armênia. Tampouco se reuniu com cristãos palestinos, que costumam estar na vanguarda da defesa de uma Palestina independente, além de discordarem de posições do chamado cristianismo sionista neopentecostal por ignorarem cristãos da região. Para completar, Bolsonaro ignorou convite para visitar a Igreja da Natividade, em Belém, na Palestina

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