Presidente ataca esquerda por crise na Venezuela enquanto festeja ditaduras de direita
No discurso que fez ao lado de Juan Guaidó no Planalto, Jair Bolsonaro não usou a palavra “ditadura” para descrever o regime de Nicolás Maduro. O presidente brasileiro, como se sabe, até tem simpatia por governos autoritários. A razão da crise no país, ele sugeriu, é o fato de a esquerda estar no poder.
Bolsonaro resolveu contaminar o encontro com sua obsessão ideológica. Ignorou um alerta feito dois minutos antes pelo próprio convidado. “Não é certo que exista um dilema entre uma ideologia e outra. O dilema na Venezuela é entre democracia e ditadura”, afirmou Guaidó.
O presidente brasileiro até se comprometeu a trabalhar para restabelecer a democracia no país vizinho, mas também quis culpar as gestões petistas pelo apoio à ditadura chavista e disse que o Brasil quase seguiu o caminho da Venezuela.
Nunca houve dúvidas de que Bolsonaro usaria o governo como palanque para embates políticos com a esquerda. A referência ao regime venezuelano é singular porque, dois dias antes, o presidente se derramou em elogios a ditadores de direita.
Bolsonaro explorou um evento oficial na usina de Itaipu, na terça (26), para celebrar os generais do regime militar brasileiro e fazer uma homenagem ao paraguaio Alfredo Stroessner —corrupto, líder de um regime torturador e acusado de pedofilia.
O presidente gosta de jogar confetes sobre autocratas. Em 2006, quando era deputado, ele tentou usar a Embaixada do Brasil no Chile para enviar uma mensagem ao neto do “saudoso general Pinochet”. Em vez de condenar a perversidade de qualquer governo autoritário, Bolsonaro só enxerga a cor da boina do ditador.
A indicação da especialista Ilona Szabó para o conselho de política criminal do Ministério da Justiça indicava que Sergio Moro estava disposto a escutar opiniões divergentes. A revogação dessa escolha “diante da repercussão negativa” mostra que o governo decidiu ouvir só um lado: a gritaria das redes sociais.
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