Tumultos do governo Bolsonaro não afetam preços no mercado, mas irritação cresce
Os vexames do governo de Jair Bolsonaro causam consternação, raiva ou nojo em parte considerável do eleitorado, mas até agora não há sinais de que abalem as condições financeiras do país, embora o povo do dinheiro pareça mais irritado com o descalabro da imagem do presidente.
Nesta quarta-feira (6), era possível ouvir que as "polêmicas", a "comunicação ruim" e a "falta de foco" do presidente podem empurrar investidores para a "defensiva".
Um exemplo teria sido o dia ruim da reabertura do mercado depois do Carnaval.
A explicação parece furada. O dia foi ruim nas finanças pelo mundo.
O pessoal deve estar chateado mesmo porque o investidor estrangeiro não voltou a comprar ações brasileiras, ao contrário, o que ajuda a emperrar a Bovespa. Ainda assim, há apreensão política.
Os fluxos financeiros para o Brasil e o investimento estrangeiro direto no país vão bem.
As taxas de juros de curto e longo prazo continuam em níveis menores ou parecidos com os de janeiro. O dólar se desgarrou um tanto, é verdade. Neste dia de Cinzas, chegou ao maior nível desde o Réveillon, mas essas andanças são difíceis de explicar no curto prazo e dependem muito de humores externos.
Além da política e da finança internacional, o que pode balançar o coreto é a confirmação de que a economia brasileira desacelera e, em caso positivo, se o Banco Central vai tomar alguma atitude a respeito, assunto da semana que vem.
No mais, é a política. O governo sempre pode criar um tumulto no intervalo entre dois tuítes, mas o "primeiro jogo de campeonato", como diz um investidor, será na semana que vem, quando o Congresso volta a trabalhar. Seria então possível verificar o efeito prático do circo de aberrações de Bolsonaro.
O teste do governo seria demonstrar que começou a montar uma estrutura parecida com a de qualquer início de mandato: controle de comissões e relatorias com gente capaz, líderes partidários mostrando boa vontade de fazer parte de uma coalizão. O arroz com feijão do Congresso.
Até agora, ninguém da praça parecia ligar muito para o picadeiro do Twitter, para cartinhas palermas e ilegais de ministros, milicianos, Queiroz e coisas assim.
A maioria era indiferente, embora houvesse gente da finança que achasse mesmo graça em parte disso.
Depois da esquecida crise da decapitação do ministro Gustavo Bebianno e da bateção de cabeças na crise venezuelana, passou a haver irritação e dúvida maior sobre o centro de poder no governo.
A questão, que obviamente não incomoda apenas gente do mercado, é sobre o sentido do circo de aberrações.
O circo pode ser um sintoma decisivo de incapacidade política ou motivo de desordens que podem arruinar negociações no Congresso ou mesmo a coordenação das partes essenciais do governo.
Mas pode ser que a estratégia de tumulto e combate nas redes insociáveis seja administrada de modo separado da condução de políticas públicas fundamentais, em especial a econômica, os lados "A" e "B" do disco governamental.
Essa era uma análise de um executivo financeiro que soube conviver muito bem com todos os presidentes, desde FHC.
O circo não pode causar desprestígio presidencial acelerado, rejeição popular maior e, assim, afetar o Congresso? É outra questão óbvia.
"Ah, isso é especulação demais. A gente só sabe o que o povo pensa quando ele diz", ri o executivo.
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