No atual campeonato de boçalidades, o céu parece ser o limite
Não que alguém esperasse coisa que preste, como ideias inovadoras, relevantes e exequíveis para tentar minorar o lastimável desempenho das nossas escolas públicas.
Mas, mesmo no atual campeonato de boçalidades disputado por ministros de Jair Bolsonaro, a carta enviada às escolas do país por Ricardo Vélez Rodríguez (Educação) passa de qualquer limite aceitável.
É sério que alguém que tem a monumental responsabilidade de comandar e estabelecer diretrizes para que tenhamos um ensino de qualidade, que deveria ser um farol a iluminar os caminhos de milhões de crianças e adolescentes, teve a brilhante ideia de produzir isso? E, não satisfeito, de enviá-la às escolas?
Vélez Rodrigues chegou aonde chegou por obra e graça de Olavo de Carvalho, donde se conclui que estávamos todos enganados quando supomos que besteirol de internet não seria ameaçador o suficiente para afetar a vida real das pessoas.
O ministro pretende que seja lido isto nas escolas: “Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”.
Logo após, professores, funcionários e alunos, embevecidos com tamanha sabedoria, devem se perfilar para a execução do Hino Nacional, tudo devidamente filmado para posterior envio ao governo.
O que diretores, professores e pais farão? Vão se submeter e submeter crianças e adolescentes a essa tosca mistura de campanha política com patriotada de quinta? Ou darão à sugestão um merecido destino, como a lata do lixo ou a devolução, com as devidas honras, ao remetente?
Não se pode agir dessa maneira nem no Ministério da Falta do que Fazer, que dirá no importantíssimo Ministério da Educação. Não há meio-termo. Um ministro com tamanha responsabilidade e que se presta a tamanha presepada não deveria ter destino outro que não o da rua.
Ranier Bragon
Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.
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