Os brasileiros dizem que odeiam polarização, que gostamos de acordos e negociações para evitar impasses e sobretudo um nível destrutivo de conflito. E dizem que precisamos encontrar uma saída para o caos político em que fomos lançados pela catástrofe do impeachment. Dizem. Na prática o que vemos é outra coisa. Vejam as intenções de voto. Há 13 candidatos, mas os preferidos são o campeão do antipetismo e o candidato do lulismo, o Lula putativo. Provavelmente, estarão em um duelo no segundo turno. Para quem está nos pólos, parece um cenário animador, a chance de derrotar finalmente o inimigo.
Para quem não acha que eleição é um vídeo game de combate, contudo, este é um cenário de pesadelo. O bolsonarismo e/ou "o golpe" (como alguns preferem) não desapecerá uma vez que Haddad ganhe a eleição. É a mais nova força política nacional, gostemos disso ou não, nas ruas, nas plataformas digitais ou nos parlamentos. O lulismo tampouco vai ser morto se Bolsonaro for eleito. O lulismo veio para ficar e não morrerá por causa de Moro (antes, ao contrário), de uma derrota presidencial ou até mesmo de uma eventual morte de Lula. O lulismo, creio, permanecerá, mutatis mutandis, como uma espécie de peronismo à brasileira.
E os três grupos (bolsonarismo + "o golpe" x lulismo) continuarão as escaramuças, a espiral de radicalização e o ciclo interminável de massacres, retaliações e o demandas de reparação. Em um governo Bolsonaro não me surpreenderia o ressurgimento de Comandos de Caça aos Comunistas no dia seguinte. E temo que mesmo um Haddad mais moderado e muito mais inteligente seria empurrado pela fúria retaliadora lulista para um ajuste contas. Pelo que se depreende dos lulistas online, há fúria e sede de compensações.
PS. Se quiserem me chamar de Cassandra ou Regina Duarte, fiquem à vontade. Nunca tive medo de tomar a posição menos popular. Em 2013 ganhei inimigos porque disse que aquilo iria matar o ciclo hegemônico da esquerda e iria chocar perigosos ovos de serpente. Infelizmente eu estava certo. Em 2015-2016 ganhei inimigos e desapreço pq, apesar de não gostar do governo de Dilma Rousseff, acreditava que não haveria legitimidade ou ganhos democráticos no impeachment e que o sistema política iria demorar anos para se recuperar desse trauma. Lastimavelmente eu estava certo. Não queria magoar corações petistas que enfim estão empolgados com a possibilidade de uma volta por cima por meio de uma vitória eleitoral. Mas se tal coisa acontecer, posso viver com isso.
Wilson Gomes
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