Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Atenção! depois, depois...

Camaradas democratas, todos e cada um de você

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Decidi escrever essa missiva porque estou alarmado pela revelação de pessoas próximas a mim - parentes de maior ou menor afinidade, primos, sobrinhos, cunhados, cunhadas, amigos e amigas de filhos e filhas e pais e mães de amigos e de amigas de filhas e filhos - da intenção que têm em votar em Jair Bolsonaro no 1o ou no 2o turnos dessa eleição. Isso se dá ora no Recife, ora em Brasília, mas também em Fortaleza, São Paulo, Paraíba, Alagoas, Minas e Rio (como em Paratodos, de Chico, tenho família quase no pais inteiro).

Não tenho amigos capazes de ter tal intenção, afinal amigos a gente escolhe ao longo da vida e aos 50 anos de idade já se terá sido capaz de selecioná-los a ponto de expurgar os cretinos e os boçais do grupo. De sorte que, se for eleitor do candidato fascista, não é e nem será meu amigo. Logo, não quero pregar para convertidos. Quero é falar à alma das ovelhas desgarradas. Há tempo para a conversão.

Não há dois lados nessa eleição. Depois do golpe parlamentar de 2016, construído a partir da não aceitação do resultado das urnas de 2014 pelo PSDB e pela associação corrupta dos interesses vadios de empresas, bancos, empresários, executivos, banqueiros, setores desviados do Judiciário, partes manipuladas da sociedade civil, camadas manipuladoras da mídia tradicional, bancadas interesseiras e desinteressantes no Congresso, políticos que trocaram o espírito público pelo espírito de porco e por inocentes úteis e inúteis dispersos pelo país, lançou-se o Brasil de 2018 a um paradigma democrático.

E esse paradigma é justamente a construção de um bloco de todos contra um: todos os que têm apreço pela Democracia, pelo Estado de Direito, todos que prezam a civilidade e os valores humanistas estão de um lado - o lado certo. 
Todos os que desprezam esses valores, todos os que não têm vergonha de se confessarem misóginos, patologicamente cretinos, hipocritamente cristãos, ficarão do lado de Bolsonaro. Ou seja, do outro lado.

Já em 2015, naquele dezembro infame em que o ladrão Eduardo Cunha aceitou pôr em tramitação na Câmara o pedido de impeachment sem causa de Dilma Rousseff, adverti a muita gente (clientes e parentes) dos riscos e das dimensões daquele erro.

Em que pese Dilma ter errado muito na política, na falta de aptidão para o jogo do poder, a ex-presidente não é corrupta e havia sido eleita. Como agora admitiu Tasso Jereissati em entrevistas (e eu disse isso a ele naquela época), a oposição derrotada nas urnas de 2014 pela 4a vez consecutiva não podia ter contestado o veredito popular, nem podia ter inviabilizado a gestão pública votando a pauta-bomba do Congresso articulada por Cunha e Aécio em troca de seus interesses pessoais e pecuniários. Enfim, não se podia ter trilhado o caminho do impeachment.

Mas veio a cassação ilegítima de Dilma, a perseguição judicial abusiva e atropelando ritos processuais a Lula e a tentativa de inviabilizar politicamente o PT em particular e a esquerda em geral.

Tanto petistas quanto a imensa maioria de democratas que povoam a esquerda resistiram às tentações de trilhar caminhos mais radicais nos dois últimos anos. Contesta-se duramente e firmemente a perseguição - porque esse é o nome mais leve do processo ora em curso - mas não se advoga a ruptura democrática, a luta aberta nas ruas. Isso porque o PT sempre soube lutar e vencer jogando com as regras nas mãos.

Quando perdeu o pleito de 1989 para Fernando Collor, em meio a manipulações de debate na Globo, plantações de camisas do PT em sequestradores de Abílio Diniz e intensa disseminação de boatos e terror econômico, Lula soube conservar seu partido nos trilhos democráticos e apostou na ampliação e na sensível melhora de sua representação parlamentar.

Foi a bancada petista da Legislatura de 1991-1995, associada à bancada tucana daqueles tempos (liderada por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Euclydes Scalco, José Richa e Arthur da Távola) e a democratas dispersos em outras legendas como José Múcio e Luís Eduardo Magalhães no PFL; Ulysses Guimarães, Pedro Simon, Paes de Andrade e Ibsen Pinheiro no PMDB; Leonel Brizola, Miro Teixeira e Amaury Müller no PDT; Miguel Arraes no PSB; que tratou de erguer os pilares da reconstrução democrática e nos preparou para os 21 anos de absoluta normalidade democrática, avanços sociais e econômicos, consolidação da moeda e das instituições observados de 1994 a 2015.

Havíamos construído as ferramentas legítimas para vigiar governos e permitir correção de rumos entre uma eleição e outra, bastando para isso apenas usá-las. Os aventureiros do golpe parlamentar de 2016 desmontaram nossas bases, solaparam nossas instituições, flertaram com a ilegalidade, cassaram a civilidade e a razoabilidade e entregaram o poder palaciano para uma quadrilha que jamais teve voto sequer para se eleger prefeito de Niterói. 

Essa turma, hoje, contém madalenas arrependidas e não nos cabe rechaçá-las. Cabe-nos acolhê-las para evitar o mal maior - e o mal maior, indesculpável e incontornável, será a ascensão pelo voto popular de um projeto fascista representado pela dupla Bolsonaro-Mourão.

Uma vez tendo conquistado o poder pelo voto, esse fascistas vestidos em pijamas fardados darão curso à desconstrução de nosso edifício democrático. O Brasil não será nem laboratório, nem o começo disso. Será apenas mais uma Nação posta nesse descaminho. Foi assim que se deu em Estados hoje distantes da democracia como Venezuela, Filipinas, Áustria e, em alguma medida, Estados Unidos (como revela Bob Woodward em Fear, só não é pior porque há compromisso e responsabilidade na burocracia de Estado da Casa Branca).

O choque que levo a cada descoberta de um parente ou contra-parente ou amigo/a de filhos e filhas que tem a intenção de sufragar "Bolsonaro" no 1o ou no 2o turnos dessa eleição motivou-me a escrever esse apelo epistolar.

Mesmo que tenham estudado (ou estejam aptos a fazê-lo) nas melhores universidades do Recife, de Brasília, de São Paulo, de Fortaleza e do Rio; ainda que tenham tido ou conservem o privilégio de conviver ou de ter convivido com personagens que foram ou são atores da reconstrução democrática; ainda que possam ler os melhores livros e consultar os mais basilares autores; espanta-me e desola-me constatar que ainda assim estão prestes a cometer o ato imperdoável de sucumbir à serpente do fascismo. Da cretinice. Da misoginia. Da interrupção do curso democrático. E isso se traduz num gesto insano: votar em Bolsonaro.

Será necessário expor o íntimo de cada eleitor bolsonarista. Eles não têm o direito de votar em silêncio, com vergonha da barbaridade que cometerão no recesso da urna. Foi essa proteção da vergonha que levou à ascensão de Trump nos EUA. Quem for contra Bolsonaro-Mourão e pretender anular o voto tem de ser instado a comparecer às urnas para votar contra isso. É uma guerra de guerrilha e estamos nela. Seja Haddad, seja Ciro quem passe com a missão de nos manter no rumo da Democracia. 

Quem for votar em Bolsonaro e pretender manter escondida essa opção antidemocrática tem de ser levado a falar sobre ela - talvez ouvir a própria ausência de argumentos transforme esse voto envergonhado num não-voto.

Estou convencido, assim como uma epístola psicografada de Chico Xavier, que não dá para voltar atrás e começar tudo de novo. Mas é possível, sim, lutar e mudar o rumo das coisas para escrever um novo fim para essa História. Para a nossa História.

Tenho convicção que esse novo fim passa pela eleição de Fernando Haddad e Manuela D'Ávila para presidente e para vice-presidente, porque esse é o caminho natural da política, da honradez, da inteligência e da recondução do país aos trilhos democráticos. A partir daí faremos com que adversários divirjam, mas não golpeiem. Que aliados ajudem, mas não chantageiem. Porque a política é o único caminho e a Democracia é o único norte.

Lula Costa Pinto.

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