A largada
Annamaria Marchesini
Jornalista brasileira, cidadã italiana, experimentando a vida fora do Brasil sem perdê-lo de vista. Viajante quando o dinheiro dá, atualmente em Florença.

Estou em Firenze há 8 dias. Pretendo ficar 2 meses. Vim por uma soma de motivos e entre eles não está incluída a fuga do meu país, tão maltratado por um governo golpista. Desde a adolescência queria viver um tempo fora do Brasil. E por minha própria conta. Comecei a trabalhar aos 18, desde o primeiro ano da faculdade de jornalismo, tive filho, viajei bastante — mas nunca o suficiente — e 42 anos depois me dei conta de que tinha de ser agora, ou jamais seria. Planejei durante um ano, deixei o trabalho onde estava há 18 anos e parti. De qualquer forma, ver de fora o que acontece no Brasil vai me permitir respirar um ar menos pesado, mesmo que os fatos continuem me angustiando.
Não estou sozinha em minha experiência internacional. Divido o apartamento e a vida na Itália com meus amigos e também jornalistas Ana Paula Franzóia e Alberto Villas, que tinham a mesma vontade e, sem que combinássemos, decidiram vir na mesma época. As coisas foram se encaixando, alugamos apartamento, cada um juntou o dinheiro que pode, tomamos todas as providências para ficar um tempo longe e cá estamos. Nossos filhos, adultos e independentes, ficaram em São Paulo. Conversamos todos os dias.
Nosso sabático é de grana restrita, muita curiosidade, longas caminhadas para conhecer a cidade além dos roteiros turísticos, refeições em casa, compras nos supermercados, a escolha dos vinhos pelo lado direito do cardápio quando nos aventuramos em alguma osteria ou bar. Não faltam gargalhadas. Villas faz piada de tudo e eu sou de rir por qualquer bobagem. Na divisão de trabalhos, Paulinha cuida dos cardápios — ela adora cozinhar e faz isso muito bem. Eu e Villas vamos nos virando na limpeza da cozinha. Cada um arruma suas coisas. Fazemos as compras juntos e um vai ajudando o outro. Está dando certo. A gente se diverte.
Estamos tentando viver como italianos classe média básica. O chip do telefone já é o da Vodafone (15 euros por mês, internet ilimitada, 1000 minutos de ligações para a Itália e exterior, 5GB). Pesquisamos supermercados e hoje encontramos um Coop, num bairro mais distante do centro histórico, com preços melhores do que o mercado perto de casa e um Carrefour das redondezas. E encontramos uma variedade maior de produtos.

Está difícil ir a museus. Uma multidão enfileirada nas portas desanima até um santo. Vamos observar para ver qual o melhor dia de visita. O David de Michelangelo vai ter de me esperar um pouco. Odeio filas. Em compensação já fomos ao Jardim de Boboli (à esq.), belíssimo parque ao lado do rio Arno, construído no século XV e onde está o gigantesco Pallazzo Pitti. Paga-se 10 euros para entrar e vale. Há galerias, museus, o Forte Belvedere fica em um de seus extremos e o paisagismo é maravilhoso.
Também fomos ao Jardim das Rosas e à Praça Michelangelo, de onde se tem a melhor vista da cidade (a foto que abre o texto é de lá). As ladeiras são extensas, mas ao chegar lá em cima a paisagem compensa o esforço. Outro dia saímos para ir a Monteriggioni, uma cidadezinha próxima. Acabamos em Siena, o que foi igualmente maravilhoso.
Todos os dias saímos com um destino, mas há tantas coisas legais pelos caminhos que levamos horas para chegar onde planejamos. Temos feito uma média de 6 quilômetros de caminhadas diárias explorando Firenze. Cansaço? Nada que uma tacinha de vinho no fim do dia não cure. Ah, só compramos vinhos que custam até 4 euros. Não somos enólogos, mas garanto que eles são deliciosos.
Nossa experiência está começando. Vamos ver o que rola.
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