O HORÓSCOPO DO PAPA
Há pouco mais de duas semanas o papa Francisco, durante a Oração do Ângelus no Vaticano, criticou os fiéis católicos que consultam e creem em horóscopo. Disse ele que essas pessoas começam a chegar ao fundo do poço.
Em respeito, vou dizer que o papa não tem signo astral, mas Jorge Mario Bergoglio é do signo de sagitário.
Confesso não entender absolutamente nada de horóscopo, mas não é preciso consultá-lo nas páginas de jornais para saber que o atual papa tem um bom mapa astral e está em confluência com energias positivas com seu vasto rebanho católico.
Mas será que, pelo simples fato de se ter uma fezinha recôndita (peraí, vou substituir essa palavra por outra mais fácil), ou melhor, oculta, a igreja católica condenará isso como blasfêmia?
Lógico que isso não me afeta, pois não tenho religião, mas saio em defesa dos católicos que vez ou outra tem a sacrossanta curiosidade humana de saber se os astros convergem para sua sorte ou se seu dia será contemplado, sei lá, por um tormento astral dos diabos.
Esse introdutório é para sair em defesa de minha saudosa e eterna mãezinha que era tão católica quanto o papa. Antes que alguém diga que estou cometendo alguma heresia nessa afirmação esclareço que, como qualquer cidadão, defendo minha mãe até nas nuvens.
Mamãe saía todos os dias as seis horas da manhã, com véu na cabeça, como rezava o ritual católico, para a missa na igreja Matriz em Cajazeiras-PB, juntamente com suas vizinhas também devotas dona Janoca, dona Lilia e dona Rosinha.
Sempre rezou pelos filhos, pelos enfermos, pelos padres, pelo papa, pelos inválidos... Lembro-me disso porque ela falava, e minha memória de criança está na minha cabeça de adulto que não me deixa mentir.
A fé católica de minha mãe era tão intensa quanto a dos que ardorosamente percorrem os caminhos de Santiago de Compostela; os que creem na água benta pelo padre nos programas de católicos e evangélicos pela tevê; os que professam crença em horóscopo; os que comungam; os que acreditam que vão ganhar na mega-sena sozinho, e por aí vai.
De férias eu em Vitória-ES e minha mãe em Cajazeiras – isso há muitos anos – escrevia eu cartas diariamente para ela e era inevitável o informe de seu horóscopo extraído da leitura do jornal capixaba Gazeta de Vitória.
Criei até uma ‘horoscopeira’ para dar mais credibilidade. Era dona Dudalina. E eu carregava na tinta sempre positivamente e, ela já sabia, que os floreios irônicos risíveis era por minha conta, e não de dona Dudalina. Mamãe amava minhas cartas.
Minha mãe nunca chegou ao fundo do poço por causa de horóscopo. Era uma pessoa de muita, muita fé. Era católica, apostólica, romana. E eu sou católico, apostólico, parisiense.
Eduardo Pereira. O filho de dona Bia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário