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domingo, 23 de abril de 2017

cinzas ao vento

O caso de Dilma e Odebrecht é o inverso do de Lula e Léo Pinheiro 


Elio Gaspari




As investigações haverão de esclarecer se Lula disse a Léo Pinheiro que deveria destruir suas anotações, mas a polícia e o Ministério Público poderão verificar um episódio onde deu-se o inverso: a Odebrecht diz que enviou a Dilma Rousseff as provas da corrupção de sua campanha nas eleições de 2014. O portador dos papéis teria sido o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel.

São dois os testemunhos da Odebrecht. Um, de Marcelo, seu presidente, outro de João Nogueira, um dos seus templários. Os documentos teriam sido levadas a Dilma depois de 17 de novembro e antes de 29 de dezembro. A manobra poderia ser chamada de chantagem ou, numa versão bem educada, ameaça: Me ajude, senão você morre comigo.

A empreiteira estava desesperada pois tinha vários diretores trancados em Curitiba. Já não se tratava de buscar a nulidade da Lava Jato numa manobra tipo Castelo de Areia 2.0. Era desespero mesmo.

Passados os feriados de fim de ano, a Advocacia-Geral da União defendeu o recurso a balsâmicos acordos de leniência, para evitar que empresas fossem prejudicadas por causa da conduta de alguns funcionários. Já a Controladoria-Geral da União defendeu a cobrança de multas às empresas, deixando-se as coisas no âmbito administrativo.

A casa continuou caindo e em fevereiro a Camargo Corrêa acertou sua colaboração com o Ministério Publico.
Emílio Odebrecht escreveu um artigo intitulado "Uma Agenda para o Futuro" e ensinou: "A corrupção é um problema grave, mas é fundamental dedicar nossas energias para o debate sobre o que é preciso fazer para mudarmos o país".

Um mês depois, em junho de 2015, Marcelo Odebrecht foi preso. Desde então, pai e filho dedicam suas energias a revelar o que fizeram, como fizeram e com quem fizeram.

É difícil saber quando Lula e Léo Pinheiro dizem a verdade

Até o dia em que o juiz Sergio Moro vier a encerrar o julgamento de Lula, quatro palavras dividirão opiniões. Disse? Não disse? Nessa queda de braço com seu ex-amigo Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS, Lula joga sua liberdade. O prestativo mandarim acompanhou uma visita do casal Silva ao apartamento do edifício Solaris, no Guarujá. Segundo ele, em "abril ou maio" de 2014 Lula disse-lhe que destruísse quaisquer anotações relacionadas com suas transações com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Lula nega e não há testemunha dessa conversa.

Lula também nega que seja o proprietário do apartamento, cuja reforma acompanhou. Até bem pouco tempo, Léo Pinheiro negava que a OAS distribuísse capilés e operasse políticos pelo caixa dois. É difícil saber quando qualquer um dos dois diz a verdade.

A Polícia Federal e o Ministério Público poderão levantar detalhes que ajudem a esclarecer o mistério das quatro palavras. (O da serventia do apartamento nunca foi um enigma respeitável.)

Passaram-se três anos e a ordem dos fatos embaralhou-se na memória de quem é obrigado a cuidar da própria vida. Tomando-se "abril ou maio" como referência, percebe-se que estranhas coisas estavam acontecendo e poderiam justificar a recomendação. No dia 17 de março a Polícia Federal prendera o operador Alberto Youssef. No dia 20, caiu Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Dias depois, Nestor Cerveró, outro ex-diretor, foi para a Europa, em férias.

Em seu escritório, o advogado Márcio Thomaz Bastos prenunciava uma tempestade. Em 2011, ele conseguira uma vitória espetacular das empreiteiras sobre a Polícia Federal e o Ministério Público, anulando a Operação Castelo de Areia no Superior Tribunal de Justiça.

A tempestade chegou em junho, quando um procurador suíço bloqueou US$ 23 milhões depositados por Paulo Roberto Costa. Ele havia sido libertado e um juiz pouco conhecido mandou prendê-lo de novo. Era Sergio Moro. Percebia-se que se estabelecera uma colaboração entre Curitiba e Genebra. Se essa colaboração vazou em "abril ou maio", não se sabe. Sabe-se, porém que Lula chamou Léo Pinheiro ao seu Instituto. Estava "preocupado" e fez uma pergunta "muito objetiva, muito clara": "Se a OAS tinha feito algum pagamento no exterior para João Vaccari". Depois, tratando de eventuais anotações contábeis de Léo Pinheiro com o PT, disse-lhe: "Se tiver, você destrua".

Abre-se uma questão. É provável que Pinheiro e a OAS tivessem anotações. Se elas existiram, seria razoável que fossem destruídas ou, pelo menos, transferidas para um lugar seguro.

Marcelo Odebrecht só mandou "higienizar" os apetrechos" de suas "operações estruturadas" em novembro de 2014, quando diretores da empreiteira foram presos. Essa circunstância mostra a extensão da onipotência dos mandarins das empreiteiras. Apesar disso, o caso de Léo Pinheiro é diferente. Ele recebeu a recomendação de Lula, um ex-presidente da República, padrinho da titular do cargo e comissário-chefe do PT.

A defesa de Lula sustenta que Léo Pinheiro inventou essa história para salvar a própria pele. Se ele mostrar quais provas destruiu, como e quando, fortalece sua denúncia.

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