Carlos Eduardo Alves
Precisamos falar de horror
Mente ou é charlatão o cientista político, analista, jornalista ou qualquer outra pessoa que tenha uma forma acabada para explicar o surto de consciência hegemônica medieval que acomete o Brasil.Antipetismo não basta. Passa muito disso. Começa por baixo. Quem se der ao trabalho de ler os comentários de grandes portais sem tomar antes um Dramin vai sujar o que estiver por perto.
Agora mesmo li o que escreveu um conhecido sobre a diminuição do número de mortes nas marginais de SP. "Tem que liberar a velocidade. Só morre quem vacila", rosnou o idiota esclarecido. Tem coisa muito pior, sei.
O Brasil hoje é, já sem dúvida, o país dito civilizado em que o atraso mais avança. Direitos são retirados por 20 anos e algumas vítimas aceitam. E até quem paga por serviços é desrespeitado no cotidiano. Nas últimas semanas, por uma questão familiar, tenho ido a PS, hospital, laboratórios, consultórios. Rede privada. O que tenho assistido, não comigo, de descaso com vida e tempo das pessoas daria para escrever uma odisseia tétrica. Protagonizada por gente que deveria tratar e cuidar do bem mais precioso que há.
A imbecilização que elege de forma democrática alguns tipos lamentáveis entra no pacote, Só reflete o que está pensando agora a maioria do país. É triste, vai passar, mas é fato.
Assim, quando um deputado ruralista diz que quem quiser estudar que entre no USP gratuita e que seus filhos estudam lá, dando uma banana pra quem não tem acesso a um bom ensino fundamental, ele não está pregando a idiotice da tal meritocracia. Está repetindo apenas sem pudor a máxima que embala boa parte da elite brasileira. "Quem mandou nascer pobre"?
O espírito da PEC do você vai morrer mas depois as coisas vão melhorar é a consagração desse tsunami primitivo de pensar, Qual o problema de retirar dinheiro de Saúde e Educação? A lógica entorpecente do enriquecimento individual estará agora cunhada na lei. Assim como o golpe paraguaio. A desfaçatez da militância partidária do Judiciário é um dado incorporado à normalidade do noticiário dos grandes veículos de comunicação, que se renderam à opinião única e quase monopolizada. É isso o que temos.
Vai mudar? Uma hora vai, sem dúvida. A História não é linear mesmo. O mundo vive uma inflexão à direita, embora com menos ignorância do que ocorre no Brasil. Mas que é assustador o mergulho no atraso aqui, é. E nenhum picareta intelectual vai conseguir explicar isso por enquanto. O Brasil de agora não é proibido apenas para amadores. Nem charlatão consegue explicá-lo.
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