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terça-feira, 4 de outubro de 2016

mudando de papo: "novos tratamentos contra doenças da velhice, como diabetes tipo 2, Parkinson e Alzheimer."

Nobel para a reciclagem 

editorial folha 2

Resultado de imagem para Yoshinori Ohsumi

O corpo humano precisa dispor de algo entre 100 g e 200 g diárias de proteínas, mas a ingestão média desses compostos é da ordem de 70 g. O restante provém da reciclagem de proteínas do próprio organismo, processo conhecido como autofagia que rendeu ao japonês Yoshinori Ohsumi o Nobel em Fisiologia ou Medicina deste ano.

Trata-se de função celular fundamental, cujo esclarecimento, duas décadas após os estudos seminais de Ohsumi, ainda encontra pouca aplicação. Carrega, por outro lado, enorme potencial com vistas a novos tratamentos contra doenças da velhice, como diabetes tipo 2, Parkinson e Alzheimer.

Isso contribui para entender por que se publicam a cada ano cerca de 5.000 artigos científicos sobre o tema. Quando o laureado japonês iniciou suas pesquisas, na década de 1980, eram no máximo 20.

Sabia-se então que detritos celulares —proteínas defeituosas, restos de bactérias e vírus invasores— eram processados em compartimentos, os lisossomos. A descoberta dessas organelas ativas na autofagia rendeu o Nobel em Medicina ao belga Christian de Duve (1974).

Não se conhecia bem, contudo, qual era o sistema encarregado de carrear os dejetos até o lisossomo. Ohsumi, um geneticista de leveduras com a carreira algo estagnada, teve então a ideia de usar esses micro-organismos como modelo para investigar a reciclagem.

Ele provou que a autofagia ocorria também em leveduras, não só em células animais, e que o processo era mediado por vesículas menores —os autofagossomos.

Ohsumi fez mais: identificou os primeiros 15 genes que regulam esse fenômeno, tão vital para a fisiologia que permaneceu em grande medida conservado mesmo entre organismos tão distantes na evolução quanto leveduras e mamíferos.

Por inaugurar, na prática, o estudo da autofagia celular, recebe sozinho o Nobel em Medicina —algo que só acontecera 38 vezes na concessão de 106 dessas láureas.

O ganhador deste ano explica ter escolhido uma área obscura de pesquisa para reciclar sua carreira a fim de não precisar concorrer com outros cientistas nos temas da moda. Uma raridade, hoje em dia, em que impera a competição na pesquisa científica.

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