Almanaqueiras: ou não queiras.

Almanaqueiras: ou não queiras.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Aquele homem merecia um ombro de gente querida e não o muro como amparo.

 Carlos Eduardo Alves

Achados e perdidos da rua

Na rua de bairro paulistano, um senhor de idade, ofegante, se escora no muro de uma casa. Com a calva típica de quem faz ou fez recentemente algum tratamento pesado, respira fundo e segura na outra mão o envelope típico de laboratório. 




Pergunto se precisa de ajuda, se não é melhor sentar. Agradece a "gentileza" e responde que não, que já está perto de casa. Enrolo um pouco para atestar se realmente ele tem condições de ficar sozinho:
~~ Pode ir, moço. Estou bem. A minha filha trabalha e não tem tempo para ir ao médico comigo.

Presto atenção na mão longa daquele homem magro e vejo uma aliança de casado. Provavelmente é um viúvo. Viajo alguns segundos pensando em como as pessoas mantêm laços afetivos de saudade através de um objeto.

Me despeço do homem que já está ereto e ganho um até logo carinhoso:
-- Você é jovem ainda, aproveita que a vida é boa.

Sigo meu caminho lamentando, apenas lamentando sem julgar, até por não conhecer os motivos, que a filha não possa acompanhar o pai idoso. Aquele homem merecia um ombro de gente querida e não o muro como amparo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário