Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

razões que a própria razão desconhece

Aprendizes de feiticeiros

Cid Benjamin

Deve ter golpista se perguntando se não teria sido melhor deixar que Dilma Roussef sangrasse na Presidência até 2018.


Em 15 dias o governo Michel Temer já faz água. As bobagens ditas pelos novos ministros se sucedem. Um deles recebeu o ator de filmes pornô Alexandre Frota, um perfeito idiota, que lhe levou sugestões para a Educação. Inacreditável.

Quem acreditou que não haveria retrocesso ou ataque aos direitos sociais caiu do cavalo.

Domingo passado houve manifestações nas principais cidades. No Rio, uma passeata tomou o Centro. Em São Paulo, milhares de pessoas foram até a casa de Temer. Barrados pela polícia, acamparam numa praça e, de madrugada, foram atacados pela Tropa de Choque da PM.

Não bastasse isso, veio a público conversa gravada entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá, prócer da “turminha braba” de Temer, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e homem do presidente do Senado, Renan Calheiros. Os dois concordam em que o impeachment de Dilma era essencial para barrar a Operação Lava-Jato – preocupação de nove entre dez políticos em Brasília. 

“Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", afirma Jucá. Machado concorda, dizendo ser preciso "uma coisa política e rápida". Maior confissão do golpe, impossível.

Coisa semelhante surgiu de outras conversas gravadas, de Machado com o inqualificável José Sarney e com próprio Renan.

A essa altura, algumas conclusões se impõem.

1) As manifestações pelo "Fora Temer" mostram que a sociedade tem vitalidade. Deveriam servir para a reflexão dos que viam como único caminho para um governo do PT entregar a economia ao PSDB e sentar-se no colo da gangue que dirige o PMDB.

2) É possível que Temer não consiga se firmar até dezembro. Haverá, então, nova eleição presidencial, num quadro de desmoralização da direita.

3) Se Temer chegar a janeiro de 2017 mas não se aguentar até 2018, o Congresso escolhe o sucessor de forma indireta. 

Este assumirá com a mesma falta de legitimidade. E, ninguém duvide: será reeditada a campanha das diretas-já.

4) Se Temer completar o mandato, em 2018 estará tão desgastado que vai ter gente com saudade dos (péssimos) governos do PT.

Os aprendizes de feiticeiro têm razões para estar mesmo arrependidos do golpe. 

*Jornalista

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