PRECISAMOS FALAR SOBRE ESTUPRO. DE NOVO.Fatos como este do estupro coletivo, seguido do inacreditável ato do sujeito que vai ao Twitter gabar-se do feito, merecem o estupor e o repúdio social mais extremo, por certo. Mas erraremos se os tratarmos apenas como um desses espetáculos grotescos eventuais que demarcamos, isolamos e condenamos para dizer "nós, os normais, não somos assim".
O fato, porém, é que já estamos no III Milênio e mulheres e crianças continuam com ótimas razões para temer, cotidianamente, o desejo sexual dos machos adultos da nossa espécie. Sempre à espreita, sempre pronto, sempre esperando apenas que se abra uma janela de oportunidade para buscar a sua satisfação, não importa como nem a que custo.
Aparentemente, mal saímos das cavernas num aspecto da vida social que transtorna a vida de grande parte da humanidade. Já é século XXI faz um tempinho e metade da humanidade continua a passar a vida com medo de ser agredida sexualmente pela outra metade.E com fundadas razões para alimentar o seu temor. Quer dizer, a humanidade precisa urgentemente de uma revisão, pois, com certeza, podemos ser muito melhores do que isto.
Aliás, muito antes de ser esta uma questão de feminismo, é, na verdade, uma desesperada questão de humanismo. Desesperada, sim. A nossa vida se baseia num entrelaçamento biológico, psíquico e afetivo essencial entre mulheres e homens, de forma que não há como isolar, na questão em tela, um problema que diga respeito apenas às mulheres ou apenas aos homens. Não há homens sem mulheres, de forma que os homens se tornarem o pior pesadelo das mulheres é mórbido até para a simbiose essencial que nos enlaça. Homens têm necessariamente mães, muitos têm filhas, irmãs, mulheres a que amam ou que os amam, de forma que parasitar este sistema com a perene iminência de abuso sexual de mulheres não é aberrante apenas do ponto de vista moral. É absurdo sob qualquer perspectiva.
A "cultura do estupro", ao contrário do que se diz por aí, não é um bônus (imoral) para a metade masculina da sociedade, mas um morbo que ataca e degrada toda a humanidade, gerando um preço que é pago, em aflição, angústia e infelicidade, por todos os seres humanos.
Afinal, como poderia eu ser beneficiário de uma cultura do "ataque sexualmente se tiver uma oportunidade" vez que tenho filhas, esposa, mãe, irmãs, outras mulheres que me importam? Na verdade, a humanidade inteira está presa na armadilha da "ameça masculina" e precisa assumir como tarefa de todos nós encontrar a equação para resolver esta horrenda entropia. Enquanto este morbo estiver rodando no nosso sistema seremos sempre muito menos do que podemos ser.
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