Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 4 de março de 2016

segue o jogo...

Está todo mundo percebendo que Sergio Moro quer ser Antonio Di Pietro, não é? O procurador Di Pietro protagonizou a Operação Mani Pulite (que começou num fevereiro de 1992), que é claramente o modelo da Lava-Jato, como já se notou. Até o nome entrega.
Prof. Wilson Gomes




A tropa de Di Pietro quis remover os entulhos da administração pública e das hierarquias políticas, para que, depois da limpeza do terreno, uma nova República surgisse. Bem, na verdade, a Mãos Limpas levou a tal exacerbação o sentimento de ojeriza à política e de repulsa aos políticos que abriu o caminho para a geração de "empresários e homens de sucessos" na política e, por conseguinte, à grande noite de Berlusconi. Mas acho que Moro não se preocupa com o dia depois. O que ele quer é forjar, no desmantelamento do Estado petista e do seu consórcio empresarial, a Novíssima República. Moro se sente o demiurgo da nova res publica brasileira.

De Di Petro (que era de esquerda, se não me engana a memória) se dizia que tinha "coração de camponês e alma mediática". Não sei quanto ao campesinato de Moro, mas o "mediático" lhe cai muito bem, como não? Se dizia também do italiano de lá que era um "animale da palcoscenico" (um animal de palco, alguém que nasceu para a cena), do nosso moro procurador não se pode dizer menos. Por fim, se diz que dominava a arte de não parecer um profissional da política, quando na verdade o era. Arte que Berlusconi também dominou como poucos. Moro não deve pensar pouco de si e do seu destino, mas o mais interessante, porém, é o seu domínio de palco, da economia narrativa dos eventos da Lava-Jato, da produção calculada das peripécias e da preparação e, enfim, execução de reviravoltas como estas de hoje. "Tudo manha, truque, engenho", como no poema de Adélia Prado.

A maestria dos moristas da Lava-Jato, na arte de "gestão de vazamentos", por exemplo, é uma das qualidades narrativas desta operação jurídico-dramatúrgica que encantam o meu coração aristotélico. Nem bem tinha me recuperado do vazamento de highlights perfeitamente editados da delação de Delcídio que, como naquele alívio enganoso momentos antes do desenlace nos filmes de terror, Moro me joga literalmente fora da cama, às seis da manhã, para assistir à sua novelinha de suspense.

Não sei aonde a Lava-Jato nos levará, mas Moro segue firme no projeto I Want to Be Antonio Di Pietro. Prestenção.

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