Um banho de Brasil: o discurso final de Glauber Rocha no nosso documentário CORDILHEIRAS NO MAR: A FÚRIA DO FOGO BÁRBARO - que será exibido nesta segunda, dia 21, às dez da noite, no Canal Brasil.
É como disse em posts anteriores: numa época de tantos radicalismos estéreis, a voz de Glauber aponta para outra direção: a necessidade de imaginar para o Brasil destinos belos e originais.
Fala, Glauber !:
Geneton Moraes Neto
"Nós, mulatos, brasileiros, sertanejos, perguntamos o seguinte: o Brasil precisa ou não precisa de reformas estruturais?
Se houvesse reformas estruturais no Brasil, uma parte da classe proprietária da riqueza sairia prejudicada, mas essa classe, se ela for humana, não poderia ceder também, em função de uma nova utopia?
Por que é que a burguesia tem que ser cruel e desumana?
Não há nenhum sentido de provocação, não há nenhuma loucura: apenas o sentido é provocar uma reflexão crítica e tocar em mitos. Os comunistas não podem ficar dizendo por aí que não existe dissidência na União Soviética e não existe repressão lá: existe repressão lá! A revolução soviética acrescentou coisas positivas, mas também coisas negativas.
Não pensemos no exterior: pensemos no Brasil, voltemos para dentro do Brasil, dentro dos nossos rios, das florestas, do grande Brasil onde vive um povo pobre, liquidado, doente - que precisa, realmente, ser resgatado.
Então, vamos acabar com essa disputa pelo poder e ver as coisas básicas: saúde, escola, hospital, o normal: termos um pouco de amor pelo povo. Por isso é que não gosto dos líderes burgueses, porque eles ficam num papo furado e disputam o poder. Nada de autoritarismo. Ninguém tem o direito de falar em nome do povo.
A revolução soviética já era, a revolução francesa, o eurocomunismo... Adeus, Europa!. Vamos descobrir a feijoada, o carnaval, o frevo, as coisas nacionais. Existe o Brasil! Os brazilianistas, os estrangeiros e os brasileiros que ficam falando mal do Brasil estão superados pela História.
Nós somos negros, mulatos, índios, nós somos um povo de nordestinos. Nossa cultura é a macumba, não é a ópera. Vamos lá, vamos descobrir o Brasil!".
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