Outro golpe para o Brasil
Situação de Lula, obrigado a depor na justiça, é um golpe para a imagem do país
El País
Lula, durante a coletiva de imprensa que deu em São Paulo ao terminar sua declaração ante a policial.
A situação do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva – que após uma operação busca e apreensão de madrugada em sua casa, foi levado até a sede da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas para declarar sobre as acusações de corrupção e lavagem de dinheiro que pairam sobre ele na imensa trama corrupta da Petrobras – significa um golpe para uma importante etapa política na história recente do Brasil e para a imagem do gigante sul-americano no exterior.
A promotoria acusou o ex-presidente de receber dinheiro de empresas relacionadas no escândalo que sacode as bases institucionais do país. As empresas são investigadas por subornar funcionários em troca de contratos lucrativos com a petroleira. É particularmente devastador para a figura do primeiro sindicalista que chegou à presidência o fato de que, segundo a promotoria, duas dessas empresas pagaram um tríplex na praia e uma casa de campo. Além disso, pagaram reformas das duas casas, compraram eletrodomésticos e móveis de luxo e o armazenamento de utensílios do ex-presidente por um valor que chega, pelo menos, a 730.000 euros, que Lula recebeu sem qualquer justificação explícita. Nenhuma das propriedades está em nome de Lula, que negou que sejam suas; a promotoria afirma ter provas do contrário.
O peso destas acusações é muito grave, mas não podem questionar o fato de que Lula é o político que encarna a decolagem definitiva do Brasil, o sucesso da luta contra a pobreza, com a incorporação de 30 milhões de pobres à classe média e um crescimento econômico sem precedentes em sua história. Além do que significa para a imagem pessoal deste referente da luta pela justiça social, o escândalo acontece em um momento particularmente delicado para o país, com uma crise econômica, política e institucional que vai piorando a cada dia. O PIB caiu cerca de 3,8% em 2015 e as previsões mais otimistas indicam que este ano irá cair cerca de 3%.
E não termina aí a cascata de consequências. A presidenta Dilma Rousseff – que foi escolhida pelo próprio Lula como sua sucessora – vai enfrentar nas próximas semanas um processo de impeachment por parte do Congresso que, inevitavelmente, será afetado pelas acusações contra Lula. Como se isso não bastasse, o atomizado Congresso encontra-se praticamente paralisado em meio a uma tempestade de acusações cruzadas de corrupção. Mas o envolvimento de Lula, que sempre defendeu sua honestidade e se considera vítima de um linchamento político, vai ainda mais longe e afeta o futuro do Brasil. O ex-presidente pensava em concorrer novamente às eleições daqui a dois anos e suceder Rousseff. "Queria que fosse outro candidato, mas se eu tiver que me apresentar para evitar que alguém acabe com a inclusão social conseguida nestes anos, eu me candidato", disse ele em entrevista ao EL PAÍS em dezembro.
Enquanto isso, a opinião pública assiste ao colapso de uma classe política que marcou uma época e a uma paralisia institucional que torna impossível enfrentar a crise econômica. O Brasil precisa sair do atoleiro e são seus políticos que devem encontrar a solução.
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