Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 28 de fevereiro de 2016

impressões, nada mais.

62% de uma sondagem acham que Lula está de maracutaia com construtoras no caso do tríplex do Guarujá. E agora, Jesus? 60% da amostra quer o impeachment da presidente. Pronto, meu Deus, o mundo acabou!. Vox populi, vox Dei. Datafolha locuta, causa finita est. É só tomar as providências, uma vez que a vontade do povo já se manifestou. Será?

Entre 60 e 70% das pessoas, segundo a bibliografia internacional, acham que os jornais são imparciais e tendenciosos. A média dos que descreem na democracia como melhor forma de governo chega a beirar os 60%. E 65% de uma sondagem recente concorda que mulher de roupa curta “merece” ser estuprada. E aí? A "vox populi" continua sendo a "vox Dei"?

Prof. Wilson Gomes



E o que há de sólido nisso? 65% dos brasileiros eram a favor da privatização de tudo na época de Bresser Pereira-FHC. Mas quando se perguntava às pessoas se eram favoráveis à privatização do Banco do Brasil, Caixa, Petrobras todos eram contra. Em sondagem de opinião, até a ordem das perguntas induz o entrevistado, quanto mais o modo como a pergunta é formulada, a pauta dos jornais, o humor da cobertura (e do entrevistador), circunstâncias, sensação de felicidade, o escambau. 75% eram a favor da Copa do Mundo no Brasil quando da decisão; mas só uns 15% permaneciam com a mesma opinião seis meses depois.

Não se enganem. Sondagens, meus amigos, ainda mais dessas de institutos "de pesquisa", não são um método válido para aferir a "vontade popular". Frequentemente, nem mesmo a "opinião pública" se consegue aferir assim. As perguntas do Datafolha, neste caso, foram explicitamente formuladas para detectar a chamada percepção do público ou, em letras pobres, a "impressão do público sobre algo". Impressão. Ponto.

Lamento, meninos, mas felizmente ninguém é louco o bastante para deixar a "impressão pública" governar a realidade. Por outro lado, compreendam que é do interesse do negócio de vender notícias (que é um negócio legítimo, não me entendam mal) criar pautas e enquadramentos sobre determinados assuntos, para, depois, fazer e publicar sondagens que mostrem como a biruta da impressão pública vai na mesma direção dos ventos da cobertura. Chama-se autolegitimação. É um jogo bem legal de fazer, vocês deviam experimentar. Beijo

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