Almanaqueiras: ou não queiras.

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domingo, 25 de outubro de 2015

"deu ao jornalismo uma dimensão de canalhice, vil."

P. Quem leu Cinco Esquinas diz que tem uma forte carga erótica e também...

El País


Mário Vargas Llosa

R. Sim, sim! Um lado da história é uma relação erótica muito forte que certamente é como um refúgio. Quando você não consegue fugir da realidade por outros meios, o erotismo é uma forma de fugir da realidade, de não viver a realidade que você rejeita. Mas se existe um tema que permeia Cinco Esquinas, que impregna toda a história, é o jornalismo, o jornalismo marrom. Foi um caso muito interessante porque a ditadura de Fujimori, especialmente com Montesinos, o homem forte da ditadura, utilizou o jornalismo marrom, o jornalismo de escândalos, como uma arma política para desprestigiar e aniquilar moralmente todos seus inimigos. Ele contratava jornalistas, pagava órgãos de imprensa para aniquilarem moralmente os adversários e críticos. Isso sujou terrivelmente o jornalismo, deu ao jornalismo uma dimensão de canalhice, vil. Em nenhuma das experiências ditatoriais que o Peru viveu, o jornalismo se tornou tão eficaz para silenciar e liquidar a oposição sem fazer política, aparentemente, apenas descobrindo que os opositores eram escandalosos, ladrões, pervertidos... Enfim, toda uma série de calúnias vis impregnava quem se atrevia a enfrentar e criticar o regime. Esse é um dos temas centrais da história. Ao mesmo tempo, também está o outro lado, como o jornalismo, que pode ser algo vil e sujo, de repente pode se tornar um instrumento de liberação, de defesa moral e cívica de uma sociedade. Essas duas faces do jornalismo, que não aparecem só no Peru, mas em todos os países e sociedades do mundo, são um dos temas centrais de Cinco Esquinas.
(...)

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