Mortos em surdina
RIO DE JANEIRO - Que bom que Miltinho, o cantor falecido há pouco, viveu para ver seus discos dos anos 60 relançados em dez CDs pelo selo Discobertas, de Marcelo Fróes. Neles estão muitos de seus clássicos: "Mulher de Trinta", "Palhaçada", "Meu Nome é Ninguém", "Poema do Adeus". O que não impediu que seus primeiros obituários nos jornais online o confundissem com outro Miltinho, o vocalista do MPB-4, com todas as gafes decorrentes.
Além da admiração que despertava como cantor romântico e de bossa, Miltinho foi um fenômeno de popularidade e de vendas em seu tempo. Mas, no Brasil, um cantor pode ser esquecido em quinze minutos, e o ocaso de Miltinho já vinha de longe. É triste constatar que muitos artistas só continuarão a ser lembrados enquanto o último de seus contemporâneos estiver de pé, e que essa cultura não se transfere sozinha para as gerações seguintes.
Em julho, por exemplo, morreu outro cantor: Roberto –quem?– Paiva. Foi o lançador de "O Trem Atrasou" (1941), "Menino de Braçanã" (1953), "Se Todos Fossem Iguais a Você" (1956) e outras belezas. Mas insuficientes para que os jornais registrassem sua morte.
Claro, há exceções. Em 2012, tivemos o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga; em 2013, o de Vinicius de Moraes; neste 2014, o de Dorival Caymmi e, agora, o de Lupicínio Rodrigues. Todos foram ou estão sendo justamente festejados. Mas, somente este ano, o do compositor e maestro Guerra-Peixe, a quem a música brasileira tanto deve, e o da enorme Aracy de Almeida passaram incrivelmente em surdina.
Assim como poderão passar, em dezembro, o de Aloysio de Oliveira, parteiro da bossa nova, e, em 2015, o de Humberto Teixeira, tão pai do baião quanto Luiz Gonzaga, e o do violonista Garoto, apóstolo do violão moderno. A não ser que seus últimos fãs e parentes entrem em ação.
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