Quem pariu Sarney que o embale…
Por Bob Fernandes - Terra Magazine
Foi redator-chefe de CartaCapital. Trabalhou em IstoÉ (BSB e EUA) e Veja. Repórter da Folha de S.Paulo e JB, fez "São Paulo, Brasil" no GNT/TV Cultura. Comentarista da TVGazeta e Rádio Metrópole (BA)
O Maranhão é prova solar de como miséria e violência se retroalimentam. Sob influência da família Sarney há quase meio século, o Maranhão disputa com Alagoas os piores indicadores sociais do país.
O Maranhão tem o segundo pior índice de desenvolvimento humano do Brasil.
O Maranhão tem o segundo maior índice de mortalidade infantil, é um desastre na Educação, um campeão no analfabetismo, e tem o segundo maior déficit habitacional do país…
Não faltam índices, histórias e história. Presos degolados são a face mais visível e chocante nesse quadro de horror e dor.
Sarney é um símbolo. Mas não apenas do poder, injustiça e miséria no Maranhão. Sarney é símbolo, representação e representante de um certo Brasil.
Sarney é do PMDB. Ele nasceu para a política há 60 anos. Nasceu no velho PSD, mas logo pulou para a UDN. Sarney foi da Arena e foi do PFL.
Sarney presidia o PDS quando rompeu com a ditadura e pulou na Arca da Nova República, de Tancredo Neves. No dia do rompimento, em junho de 1984, foi à reunião, em Brasília, com um revólver na cintura.
Sarney tomou posse da presidência bancado pelo general Leônidas da Silva, o ministro do Exército no governo que substituiria a ditadura. E tomou posse com apoio de tantos que temiam Ulysses Guimarães.
Dono de um império de Mídia, como tantos outros do mesmo grupo, o Sarney presidente distribuiu mais de mil concessões de rádio e TV.
Com a farta distribuição de emissoras, ganhou mais um ano na presidência.
Com as concessões, Sarney inflou e consolidou poderosos grupos regionais. Grupos que se renovam ao se alimentar da simbiose entre mídia e política, política e mídia.
Isso com apoio decisivo de ACM, o Antonio Carlos Magalhães. E de tantos que só depois descobririam que Sarney é… Sarney; ACM que presidiria o Congresso e seria homem forte da Era Fernando Henrique Cardoso.
Sarney presidiu o Congresso no governo de Fernando Henrique. Sarney presidiu o Congresso nos governos de Lula e Dilma, dos quais segue aliado.
Sarney defendeu, e cabalou votos, para tornar Fernando Henrique seu colega; como membro da Academia Brasileira de Letras.
Os degolados de São Luis são uma metáfora da Era Sarney no Maranhão. O Maranhão é, têm sido dos Sarney. Mas Sarney não é só do Maranhão, ou do Amapá.
Sarney é símbolo, representa estruturas de poder enraizadas no Brasil há décadas. Senão há séculos.
Quem pariu Sarney que o embale. Ou desembale, nas urnas.
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