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Marconi Leal
— Não, aquilo não é normal.
— Não aponta, Afonso. Olha o vexame.
— Mas aquilo não é normal, minha filha, tô lhe dizendo: não é!
— Afonso, o sujeito tem o órgão sexual, digamos, um pouco desenvolvido, só isso.
— Um pouco desenvolvido? Um pouco desenvolvido é o PIB de Cuba, Ana Sílvia. Aquilo ali é uma aberração. O cara podia ser protagonista de “O Homem Elefante”. Não, não. Não tá certo, vou falar com a gerência.
— Afonso… Ai, meu Jesus! Olha o escândalo, Afonso. Já tem gente olhando.
— É claro que tem gente olhando. O homem fica ali todo esparramado na esteira, se expondo, de sunga. O que é que ele quer? Incentivar a prática do alpinismo?
— Afonso, alguma pessoas têm os genitais maiores, outras menores, que mal há nisso?
— Maiores e menores, eu aceito. O problema é que estamos tratando aqui claramente de um caso de pé de bambu. Que que é isso? Não. Então o sujeito vem se divertir, pegar um pouco de sol na piscina com a família e é obrigado a enfrentar selvagens?
— Selvagens, Afonso?
— E armados, o que é pior. Chama as crianças. Amanda! Ricardinho! Já pra cá! Correndo! Onde é que fica a gerência desse negócio?
— Você não vai fazer isso, Afonso.
— Ah, vou! Vou na gerência. Assim que conseguir enxergar onde é que fica. Coisa difícil, pois o pinto do indivíduo tá empatando um pouco a visão. Ricardinho! Amanda! Venham! Rápido! Cuidado com a Anaconda!
— Psssss! Fala baixo, Afonso. Você quer me matar de vergonha? O que é que o homem tá fazendo de mais contra você, me diga!
— Contra mim, particularmente, nada. O caso dele é mais contra o Leonardo.
— Que Leonardo, Afonso?
— O da Vinci. Ou tu não tá vendo que a deformidade dele representa um acintoso ataque à harmonia e à proporção?
— Meu Deus!
— É uma questão de princípios, mulher. Civilização contra barbárie. Tu já imaginou viver num mundo onde todas as pessoas tivessem protuberâncias assim? Ninguém poderia andar de ônibus, por exemplo. Sem falar no fim das filas de banco. E na dificuldade para caminhar na rua: “Ops! Me desculpe, senhor. Creio que tropecei no seu pinto”. Tenha paciência!
— Você ficou louco, Afonso.
— Estaria extinta toda a lógica organizacional, mulher. Seria a derrocada do capitalismo internacional. Eu vou na gerência. Me solta.
— Você tá assustando as crianças, Afonso. Por tudo o que há de mais sagrado, será que você não poderia resolver isso por outra via?
— E estou resolvendo por outra via. Vou pela Marginal. Ele tá usando o Minhocão.
— Tudo isso por conta de um pênis, Afonso?
— Um, não. A julgar pelo volume na sunga, ele deve ter ali pelo menos uns cinco. Vou na gerência. Me larga.
— Por que isso, Afonso? Por quê?
— Mulher… Pelo futuro da civilização!
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