O EQUILIBRISTA
João de Manezin: 24 horas sem parar numa bicicleta
Quem não conhece João de Manezin em Cajazeiras é porque não é cajazeirense, e, muito menos se não conhecer pelo menos uma das presepadas dele por sua vida a fora por Cajazeiras e região, é porque é ruim da cabeça e doente, também da cabeça, e não do pé.
A bicicleta sempre foi um meio de transporte para encurtar suas distâncias – de João - entre a Camilo de Holanda e o centro de Cajazeiras, e, também, um de seus meios de ganha-pão, como falou Pereira em seu texto, quando diz que João botava um bagageiro em sua bicicleta e enchia de revistas: Sétimo Céu, Grande Hotel – revistas de fotonovelas de amor -, gibis e livrinhos de faroeste.
Como eu morava na Rua Pedro Américo e era frequentador assíduo da Praça do Espinho, então sempre vi João de Manezin passar por essas duas ruas em suas andanças, que eram seus itinerários principais. Então, João de Manezin sempre teve domínio total do uso de bicicleta.
Quando o prefeito Antonio Quirino promoveu a abertura do funil da Rua Padre José Tomaz, ali, aquele estreitamento que só cabia um carro, e mal, em frente a budega do pai de Dedé Bundão, aquele trecho ficou bem largo e desafogou o trânsito ali naquela área. Tornou-se uma 'ruazona' das boas.
E foi aproveitando essa novidade de rua larga, para o padrão de Cajazeiras, que João de Manezin pegou a deixa para tirar sua casquinha. De imediato foi alardeado nas Rádios Cajazeiras e Alto Piranhas para toda cidade que João de Manezin iria fazer uma apresentação, um show, um espetáculo na mais nova avenida de Cajazeiras.
Evidentemente que João não dá murro em ponta de faca, e, consequentemente, ele mobilizou patrocinadores para sua empreitada, o que era justo João faturar em cima de seu esforço físico, o que requeria o espetáculo.
Esse trecho de rua recém enlarguecida foi fechado para a apresentação de João. Foram colocadas fios com muitas lâmpadas (gambiarra) em volta do trecho que ia da 'budega 'de seu Tomaz até a altura da igreja dos crentes, e uma corda fechando o espaço da rua para João fazer exclusivamente sua apresentação.
E o que era esse show? O espetáculo de João de Manezin consistia ele rodar bicicleta vinte e quatro horas sem parar, sem colocar os pés no chão, sem sequer triscar o chão. João iria passar 24 horas sem dormir, apenas rodando bicicleta nesse trecho de rua. 24 horas sem fazer necessidades fisiológicas mais prementes. Para isso ele se preparou e planejou todos os detalhes.
Bem, cagar, João não poderia de forma alguma, tendo em vista que ele estaria 24 horas sendo visto por muita gente em volta das cordas. Então João se alimentou de líquidos, principalmente água. O banho consistia em seus assessores jogar água em seu corpo. Não trocaria de roupa. Não tinha como. Quando queria urinar, seus assessores jogavam água nele. Ele poderia fazer o que bem entendesse, desde que não parasse de rodar a bicicleta e não botasse os pés no chão.
Durante o dia, tudo bem, estava todo mundo presenciando a resistência física de João, mas, e a noite, de madrugada? Alguns vigias ficaram de olho, mas as bocas maldosas da cidade diziam que João chegou a encostar os pés no chão no cochilo dos vigias durante a madrugada e com a ausência de plateias. As especulações eram de que João tirou ma boa soneca na madrugada sob a anuência dos vigias, cupinchas seus. João sempre negou essas invencionices, e, para quem conhece o caráter de João, mesmo sendo presepeiro de primeira linha, todos confiavam em sua honestidade.
A realidade é que João, às vinte e três horas e cinqüenta e nove minutos de rodadas de bicicletas, com contagem regressiva e muita expectativa do povo de Cajazeiras, João cumpriu seu feito e desceu da bicicleta já nos braços de assessores bastante abatido. O cara estava só a quimba. Mas cumpriu seu objetivo e entrou para a história do ciclismo de Cajazeiras.
Tentei colocar nessa história a intromissão de um bêbado para sugerir o título desse texto de “O bêbado e o equilibrista”, música de Aldir Blanc e João Bosco, mas não deu. Não, não apareceu nenhum bêbado para atrapalhar a empreitada de João de Manezin.
Eduardo Pereira
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