Filho de Íracles teme pelo Teatro de Cajazeiras
Por Nonato Guedes
O engenheiro e advogado Saulo Péricles Brocos Pires (Pepé), filho da saudosa teatróloga e radialista Íracles Brocos Pires, que pontificou como dama da cultura na cidade de Cajazeiras, externa seu receio quanto ao futuro do Teatro que tem o nome da sua mãe na terra que ensinou a Paraíba a ler, conforme a tradição oral e escrita disseminada ao longo dos anos. De concreto, sabe-se que o governo do Estado assumiu compromisso de ampliar o Teatro dentro de um projeto de reforma. “Pepé” afirma que tem sido abordado por pessoas que indagam se a família seria contra a demolição/reconstrução do Teatro Ica, e especula, em artigo remetido ao “RepórterPB” pelo radialista Salles Fernandes Bezerra, o que sua mãe, que se fosse viva seria octogenária, pensaria dessa situação.
E prossegue: “Um exemplo que vivenciei dela foi a demolição do prédio da antiga prefeitura municipal, que se situava em frente à casa onde morávamos na rua Padre Rolim. Primeiramente ela foi contra a demolição, alegando ser um prédio histórico e existirem outros locais disponíveis. Pediu aos pedreiros que preservassem pelo menos o Brasão da República que ornava a fachada, que como era muito grande, caiu e se desmanchou em poeira. Isto ela presenciou e lamentou até às lágrimas. Depois, como essa demolição foi para que no lugar se construísse o prédio da Telpa, que colocou Cajazeiras em contato com o mundo, ela apreciou e achou de enorme utilidade. Quando foi fazer tratamento no Rio, sempre que eu vinha de férias ela mandava presentes para as telefonistas. Era como se dissesse: perdemos a história e ganhamos o progresso, segundo minha interpretação. Ela não viveu para saber que seria apenas uma sede provisória e se fosse viva choraria novamente”.
“Pepé” recorda que Íracles Pires sempre foi contra as demolições, até por causa do trabalho que demandam. Mas ele observa que infelizmente é assim que a coisa pública anda, invocando racionalidade e leis que muitas vezes entram em conflito. Um ponto que Íracles indagaria, se consultada sobre a demolição do Teatro, seria se o projeto consistiria em aumentar ou diminuir o tamanho, se as instalações vão ficar mais ou menos adequadas para o Teatro. Como as versões dão conta de que a proposta é no sentido de aumentar e melhorar as instalações, Íracles, presumivelmente, não se oporia à mudança. “Irracionalidade nunca foi a sua característica”, lembra Saulo Péricles Brocos. O que o deixa intrigado é o fato de tanta gente cogitar o assunto e abordá-lo para saber sua opinião. Especula se não haveria algum interesse sutilmente oculto, pois não falta político que queira homenagear aquele tio alcoólatra, aquela menina que morreu de acidente ou outro personagem de nossa história. Afinal, como chama a atenção, há tantos prédios denominados em homenagem a pessoas absolutamente desconhecidas ou que não tenham prestado um benefício sequer às comunidades, fenômeno que ocorre não somente em Cajazeiras mas em outras plagas.
Rememora, ainda, no seu escrito, as querelas surgidas com a iniciativa de Íracles em edificar um Teatro em Cajazeiras, algumas travadas com o falecido bispo Dom Zacarias Rolim de Moura quando a dama da Cultura no sertão tentou alojar artistas no Seminário da diocese. “Vão desvirtuar os alunos, Ica”, ponderava dom Zacarias Rolim de Moura, que tinha formação conservadora. Naquele tempo, diz “Pepé”, fazer cultura era bem mais complicado que hoje. Muitas vezes quem se aventurava a tanto tinha que fazer milagres, diante das dificuldades, da falta de estímulo para que a Cultura tivesse amplitude e se expandisse numa cidade que ganhou fama exatamente pela tradição nessa área. Enfim, ele questiona se findas as demolições não vai faltar verba para a reconstrução. “Deus queira que não, mas minha teoria da conspiração sempre fareja algum inimigo brecar as verbas e levar para outra obra, em outro canto. A maldade dessa gente é uma arte”, arremata Saulo Péricles Brocos Pires.
O desabafo de “Pepé” é um alerta aos cajazeirenses que, mesmo radicados fora, lutam pelo desenvolvimento da cidade e pelo incentivo permanente aos seus valores mais caros. Ainda recentemente, a Associação dos Cajazeirenses e Cajazeirados, com ramificações em Brasília e Fortaleza, conseguiu sensibilizar o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, para liberar verbas destinadas ao projeto de revitalização do Açude Grande da cidade. O ministro foi homenageado em Brasília, no evento promovido pela AC2B recentemente, com direito a troféu e certificado de reconhecimento pela contribuição prestada a Cajazeiras. É necessário que haja uma nova mobilização, desta feita em favor do Teatro, que além de ter sido uma conquista valiosa, homenageia uma mulher que tanto fez pela formação de gerações de artistas que hoje brilham, inclusive, nas telas de emissoras de televisão ou em filmes do cinema nacional. Por dever de justiça, ressalte-se o empenho que o então governador Wilson Leite Braga teve para com a edificação do Teatro que ganhou o nome de Ica. A reforma do Teatro seria acatada desde que não desfigure as finalidades para o qual foi construído depois de intensa luta dos setores comprometidos com a cultura naquela região.
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