Revista destaca retorno de Solha ao cinema
A revista “CartaCapital”, em matéria assinada por Orlando Margarido, e sob o título “Coração de ator”, destaca em sua última edição o retorno de Waldemar José Solha ao cinema, arte em que cedo investiu. Na legenda da foto, há uma referência a “jejum interrompido”, com a observação de que após dois filmes o ator radicado em João Pessoa teve que ir ao cardiologista. O texto é o que se segue:
“Waldemar José Solha foi um dos muitos indignados com a recente referência de que quem trabalha num banco não sofre pressão. De pressão, sem dúvida, esse paulista de 71 anos entende. No início dos anos 1970, enquanto cuidava da agência da pequena Pombal, Paraíba, Solha vendeu carro e casa para investir numa idealista empreitada cinematográfica. O ânimo de um amigo o levou o conhecer o diretor Linduarte Noronha, então prestigiado pelo referencial documentário “Aruanda”, e participar também como ator de seu único longa-metragem, “O Salário da Morte”.
De produção atribulada, o filme foi um fiasco e permanece um título desconhecido até hoje. A traumática experiência serviu para Solha angariar dívidas, mas também fazer estrear como atriz sua sobrinha Eliane Giardini. Para recuperar a soma, baseado em João Pessoa, onde mora até hoje, ele passou a escrever peças de teatro e livros de contos e poesia assinados como W. J. Solha. É com esse nome artístico que o público se surpreende nas duas recentes produções pernambucanas que o recuperaram para o cinema. Em “Era uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes, ele interpretava o pai atento de Hermila Guedes. Em “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, a figura cresce para um patriarca prepotente, dono de engenho e do quarteirão onde vive no Recife. “Foram presentes simultâneos, papéis tão distintos, mas exigentes. Não foi fácil entrar à noite num mar que se sabe ter tubarões”, lembra sobre uma das cenas de “O Som ao Redor”.
Os convites quebraram um jejum cinematográfico em que Solha só aceitou participações por amizade, a exemplo de “Fogo Morto” (1975), de Marcos Farias, e “Lua Cambará” (2002), de Rosemberg Cariry. Nesse período, pintou e realizou murais na capital paraibana. Sua preferência hoje é pela escrita e diz pretender encerrar a carreira no cinema. “Como a arquitetura, é a arte que melhor está resistindo e tem renovação, mas não é mais para mim. Após os dois filmes fui ao cardiologista ver no que deu meu esforço”.
“CartaCapital” traz, na mesma edição, comentário de Orlando Margarido sobre “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, com o título “Território dominado”. O autor pontua: “O domínio pelo conhecimento do território onde pisa pode ser uma ferramenta útil mas cômoda para um realizador. Não foi por comodidade, certamente, que o pernambucano Kleber Mendonça Filho se deteve na vizinhança onde cresceu e ainda mora no Recife para realizar o surpreendente “O Som ao Redor”. Antes, fez da familiaridade a inquietude e estranheza de quem viu tudo e ao mesmo tempo nada mudar. Tudo, porque sua casa passou a ser cercada de grandes edifícios em bairro da classe média da capital. Mas a se encarapitar neles estão as mesmas famílias endinheiradas com seus caprichos senhoriais, os empregados legados a quartinhos sufocantes, a neurose da violência.
Nesse universo capitaneado pelo senhorio Francisco (um ótimo W.J.Solha) cabe um dado significativo. Seu poder no quarteirão onde é proprietário de boa parte dos imóveis se origina do antigo engenho. O prestígio patriarcal segue intacto na cidade, tanto para os netos acomodados que vivem sob sua proteção como para novos componentes desse quadro. É o caso do profissional de segurança (Irandhir Santos) e sua equipe, que chegam quase impondo seus préstimos por saber jogar com o medo. Entre os dois planos, temos a família açodada pelo latir insistente de um cão e o pesadelo de uma invasão. Do olhar arguto ao redor, e não da ação e resolução banal de uma narrativa, tem-se a elaboração incomum deste filme”.
Fontte - “RepórterPB”
Nenhum comentário:
Postar um comentário